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Conheça o Matopiba, região brasileira onde a produção de soja mais cresce

Caminhão com soja em Lucas do Rio Verde (MT) - Paulo Whitaker/Reuters
Caminhão com soja em Lucas do Rio Verde (MT) Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

Danielle Castro

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

11/06/2025 15h30

As regiões Centro-Oeste e Sul continuam sendo as campeãs da produção de soja, grão que é o carro-chefe da agropecuária brasileira. Mas, nos últimos anos, a maior expansão dessa cultura está acontecendo em outra parte do país: o chamado Matopiba.

As áreas produtivas da oleaginosa nos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia registraram um crescimento acumulado de 114% nas últimas dez safras, atingindo cerca de seis milhões de hectares, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). No mesmo período, a média total do país ficou em 43%. De acordo com a empresa de tecnologia de dados EEmovel Agro, a projeção para a próxima década é de um crescimento de 11% ao ano no Matopiba, o equivalente a 184% ao final desse intervalo.

Diferentemente de outras regiões, que foram moldando a cultura ao surgimento de novas tecnologias nas últimas três décadas, o sucesso do Matopiba tem se dado em sinergia com o desenvolvimento tecnológico. Seu avanço vem sendo impulsionado pela instalação de portos fluviais e novas conexões férreas e terrestres. A produção de soja na região do Matopiba na safra 2024/2025 ficou em 32 milhões de toneladas, o correspondente a 19% do total do país, de 168,3 milhões de toneladas.

O Tocantins é destaque pelo grande número de áreas de pastagens animais degradadas que estão sendo revertidas para o cultivo da soja. "São novas áreas a serem abertas para a nova fronteira agrícola, sem infringir o Código Florestal e a Lei Ambiental", diz Joenes Mucci Peluzio, professor da UFT (Universidade Federal do Tocantins). "As condições climáticas propícias e o baixo valor das terras agriculturáveis, quando comparadas às do Sul e Sudeste, devem ajudar a manter o cultivo de soja em expansão no estado nos próximos anos."

Avanço em Mato Grosso

Em Mato Grosso, há décadas o rei da produção de soja no país, também há avanços, com 51 milhões de toneladas na safra 2024/2025, ou 30% do total do país.

O crescimento nos últimos anos é atribuído ao cenário internacional, com a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que começou em 2019, e mudanças na infraestrutura da região Centro-Oeste do Brasil.

"Áreas que antes não tinham viabilidade econômica aram a ter, com a conclusão da rodovia BR-163, ligando Sinop [MT] ao porto de] Mirituba [PA]", diz Lucas Costa Beber, presidente da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso).

Além disso, a melhora no preço desde a pandemia trouxe conversão de áreas de pecuária para agricultura no estado. A previsão é de que, até 2034, sem expansão territorial, a produtividade no estado alcance mais de 64 milhões de toneladas de soja e 84 milhões de milho, uma alta esperada principalmente pelo uso de novas tecnologias.

Desafios futuros

A mudança climática é um dos principais desafios enfrentados pela cultura da soja no Brasil atualmente. Secas no Centro-Oeste e chuvas excessivas no Sul evidenciam essa vulnerabilidade.

"O Brasil é um país tropical, tem as vantagens de colher mais de uma safra na mesma área no mesmo ano, mas, por outro lado, sofre uma pressão muito maior de pragas e doenças e a questões relacionadas a altas temperaturas, excessos climáticos", diz Alexandre Nepomuceno, chefe da área de soja da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Outro desafio é a baixa agregação de valor: o Brasil exporta 60% de sua soja "in natura", enquanto os EUA transformam 60% internamente em biocombustíveis, químicos verdes e alimentos processados. Embora boa parte da soja consumida internamente seja usada para alimentar o gado que renderá carne para exportação, o ideal seria aumentar a manufatura — incluindo industrializações como as de óleos alimentícios, diesel verde e produtos vulcanizados (pneus, tinta, manta asfáltica, entre outros).

A dependência do mercado chinês, consumidor de 80% da soja brasileira, também preocupa especialistas. A China é o quarto maior produtor de soja do planeta, mas tem incentivado o aumento de produção na Índia, no sul da Ásia e, principalmente, na África. "Se daqui a cinco ou dez anos vai virar um grande competidor das exportações de soja brasileira, a gente não sabe, mas o Brasil tem que se preparar", afirma Nepomuceno.

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