SPTrans diz que proposta da gestão Nunes para vagas sob Minhocão é inviável

A SPTrans classificou como "totalmente inviável" a implementação de vagas de estacionamento para carros sob o Minhocão, no Centro de São Paulo —conforme defende Mello Araújo (PL), vice de Ricardo Nunes (MDB).
O que aconteceu
Avaliação consta em ofício enviado pelo órgão a uma vereadora. No documento encaminhado ontem a Renata Falzoni (PSB) e obtido pelo UOL, a SPTrans explica que a mudança "dificultaria sobremaneira" a operação do corredor para ônibus na região.
Hoje, região abriga fluxo de aproximadamente cem ônibus por hora. Segundo a SPTrans, a manobra de entrada e saída de automóveis em um estacionamento no canteiro central do Minhocão afetaria diretamente a fluidez e a segurança da operação dos ônibus no corredor.
Ainda não existe corredor de ônibus no trecho onde está sendo instalado o estacionamento, mas há um plano para isso acontecer. Atualmente, o corredor embaixo do Minhocão está somente no trecho da avenida São João. O plano diretor da cidade, porém, define que ele seja expandido para outras vias embaixo do viaduto, incluindo a Amaral Gurgel.
Ideia do estacionamento é defendida principalmente pelo vice-prefeito. Durante viagem de Nunes, em abril, Mello Araújo (PL) ordenou o início de obras de adaptação no canteiro central da rua Amaral Gurgel, localizada sob o Minhocão. O objetivo era testar a transformação de parte do espaço em estacionamento. No momento, há quatro vagas.
Antes do início das obras, parecer da CET indicou que vagas no local seriam inviáveis. Datado de 14 de abril, o documento produzido pela Companhia de Engenharia de Tráfego da cidade apontou que os espaços para estacionamento a 45 graus comprometeriam a segurança e a permanência de uma ciclovia que há ali
"A resposta da SPTrans confirma aquilo que a gente já sabia", afirma Renata. "Nem os próprios órgãos oficiais conseguem defender essa medida, que vai contra qualquer critério técnico e desrespeita a legislação da cidade", disse a vereadora.
Além de deixar claro um total desconhecimento de planejamento viário, o projeto é um ataque à dignidade humana, pois no fundo tem a intenção de expulsar as pessoas em situação de rua que se abrigam ali
Renata Falzoni (PSB), vereadora em São Paulo
Após a publicação da reportagem, a prefeitura disse, por meio de nota, que "não há qualquer impedimento" em relação à implantação de estacionamento de carros na Amaral Gurgel". De acordo com a prefeitura, "a inviabilidade destacada no estudo refere-se estritamente ao trecho das avenidas São João e Gen. Olímpio da Silveira, onde há corredor exclusivo e não foi instalado qualquer estacionamento no canteiro central".
Obra para 'limpar a região'
Estacionamento impediria descarte irregular de lixo na região, segundo Mello Araújo. Antes das obras, moradores de rua ocupavam a área. O espaço transformado em estacionamento fica na altura da rua General Jardim.
Prefeito e vice negaram desentendimento por causa da intervenção. Mello Araújo afirmou que agiu com o conhecimento do prefeito. Já Nunes chegou, inclusive, a defender a medida publicamente. Entretanto, o UOL apurou que o prefeito queria ter participado da ação.
Aliados classificaram a primeira experiência de Mello Araújo como prefeito em exercício como evento "desastroso" e "inoportuno". A avaliação de alguns foi de que decisões como as vagas no Minhocão expam a istração desnecessariamente. Já outros creem que o vice estava "procurando fazer o melhor para cidade".
Vice é ex-comandante da Rota e foi indicado por Jair Bolsonaro (PL). É visto como nome de confiança e leal pelo ex-presidente. Foi no governo Bolsonaro que ele comandou a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) —ele pediu exoneração do cargo com a vitória de Lula, em 2022.