Marina abandona sessão tensa após senador dizer que ela não merece respeito
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou hoje uma sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado após uma série de embates tensos, inclusive com senadores da base do governo Lula (PT), e de ofensas machistas.
O que aconteceu
Marina levantou e foi embora após senador ofendê-la. Plínio Valério (PSDB-AM), que já é alvo de representação no Conselho de Ética por dizer que gostaria de enforcar a ministra, disse que não ela não merecia respeito. "Olhando para a senhora, estou falando com a ministra, e não com uma mulher", começou. "Eu sou as duas coisas", respondeu Marina. "A mulher merece respeito, a ministra, não", rebateu ele.
"Ou ele me pede desculpa, ou eu vou me retirar", condicionou Marina. Plínio Valério quis continuar a discussão, então ela recolheu seus papéis e foi embora. A sessão foi encerrada logo em seguida.
Episódio encerrou três horas de discussão acalorada. Marina foi chamada à comissão para discutir a criação de unidades de preservação marinha na costa de estados amazônicos, projeto que foi criticado por senadores do PSD, legenda da base do governo, Lucas Barreto (AP) e Omar Aziz (AM), que têm interesse na exploração da região.
Embate com Plínio Valério aconteceu logo após o presidente da comissão, o senador Marcos Rogério (PL-RO), falar para a ministra "se pôr no seu lugar". Rogério silenciou o microfone de Marina várias vezes durante a sessão, mas ela continuou falando.
O senador apontou suposta falta de modos da ministra. "Essa é a educação da ministra Marina Silva, ela aponta o dedo e...", ironizou. "Você gostaria que eu fosse uma mulher submissa, e eu não sou", respondeu Marina.
Senador reclamou da acusação de sexismo. "Agora é sexismo, ministra? Me respeite, ministra. Se ponha no seu lugar", falou.
Fala gerou confusão e gritaria. Marina chegou a pegar a mão do senador, que acenava fazendo sinal de "não", e abaixá-la. Eliziane Gama (PSD-MA) uma das duas únicas senadoras mulheres presentes na sessão, disse que o presidente da comissão estava desrespeitando a ministra e que o comportamento dele era absurdo.
Outro embate foi com o senador Omar Aziz, que culpou a ministra pela aprovação do projeto que desmonta regras do licenciamento ambiental. "A culpa da lei aprovada é da senhora", disse. "Cada um que votou aqui que assuma sua própria responsabilidade", rebateu Marina. Os dois também trocaram acusações sobre o atraso da reconstrução da BR-319, que ligaria Manaus a Porto Velho. A estrada tem 918 km de extensão —desses, 885 km cortam a floresta amazônica. Pesquisadores temem que a pavimentação facilite o desmatamento ilegal da região.
Aziz atribuiu mortes por falta de oxigênio no Amazonas durante a pandemia de covid-19 à demora na pavimentação da estrada. Já Marina disse que é usada como "bode expiatório", que deixou o governo em 2008 com esse debate encaminhado e que, nos 15 anos em que esteve longe do ministério, a questão não avançou. "Durante 15 anos, continuei sendo usada como bode expiatório para esconder a incompetência dos que fazem promessas e não cumprem", disse. Aziz, então, questionou se a ministra estava dizendo que o presidente Lula é incompetente. Ela se enfureceu com a sugestão, pedindo que o ministro não colocasse palavras em sua boca.
Discussão ilustra divisão dentro do governo na questão ambiental. O presidente da comissão, Marcos Rogério, disse a Marina e Aziz que convocassem uma reunião da base do governo para se resolverem. "Acho que o governo Lula tem dois governos, ou três", declarou Rogério.