Taxas caem com IPCA-15 melhor que esperado e recuo dos rendimentos dos Treasuries
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs tiveram perdas firmes nesta terça-feira, influenciadas pela baixa dos rendimentos dos Treasuries no exterior e por dados de inflação mais favoráveis no Brasil, sugerindo possível início da desaceleração de preços.
No fim da tarde desta sexta-feira a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 -- um dos mais líquidos no curto prazo -- estava em 14,695%, ante o ajuste de 14,72% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2027 marcava 13,85%, em baixa de 11 pontos-base ante o ajuste de 13,957%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,62%, em alta de 19 pontos-base ante 13,805%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,71%, ante 13,889%.
No início do dia o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA-15 teve alta de 0,36% em maio e 5,40% nos 12 meses até maio -- abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters com economistas, de altas de 0,44% para o mês e de 5,49% em 12 meses.
Mais do que o resultado cheio em si, a abertura do IPCA-15 -- considerado uma espécie de prévia da inflação oficial -- mostrou um cenário mais benigno para os preços.
O núcleo do IPCA-15 registrou taxa de 0,40%, conforme cálculos do JP Morgan, abaixo do 0,56% projetado. O núcleo de serviços subiu 0,45%, contra 0,65% da projeção.
“Embora o IPCA-15 de maio ainda mostre números de inflação elevados, e esta seja uma única leitura melhor do que o esperado, a divulgação de hoje sugere que a inflação pode ter começado a virar a esquina”, avaliaram em relatório Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez, do JP Morgan.
“Se a reversão ampla nos indicadores principais vista na prévia do IPCA de maio for mantida nas próximas divulgações, representaria uma desaceleração do IPCA mais cedo do que o esperado, já que esperávamos ver tal desaceleração apenas na segunda metade deste ano”, acrescentaram.
O IPCA-15 favorável fez as taxas dos DIs cederem em toda a curva desde o início da sessão, em um movimento reforçado pela baixa firme dos rendimentos dos Treasuries.
Os yields caíam em função da redução das tensões comerciais, após o presidente dos EUA, Donald Trump, voltar atrás na véspera em sua ameaça de impor tarifas de 50% contra a União Europeia, e do recuo dos rendimentos dos títulos japoneses, depois de o Banco do Japão informar ao mercado que não pretende emitir tantos papéis.
“O dia é surpreendente, porque temos otimismo interno e externo. O interno está ligado principalmente aos dados do IPCA, bem abaixo do esperado, trazendo expectativa de que o BC não suba mais a Selic e possa cortá-la mais cedo”, comentou Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
“E vemos um cenário favorável no exterior também, com fechamento das (taxas dos) Treasuries.”
Às 16h14, a taxa do DI para janeiro de 2031 -- um dos mais líquidos no longo prazo e bastante influenciado pelos Treasuries -- marcou a mínima de 13,60%, em baixa de 21 pontos-base ante o ajuste da véspera.
A queda das taxas dos DIs esteve em sintonia com o avanço forte do Ibovespa e a baixa do dólar ante o real, em uma sessão em geral positiva para os ativos brasileiros.
Perto do fechamento desta terça-feira a curva a termo precificava 93% de probabilidade de manutenção da taxa Selic em junho, contra 7% de chance de elevação de 25 pontos-base. Atualmente a Selic está em 14,75% ao ano.
No mercado de opções de Copom da B3, a precificação na segunda-feira -- atualização mais recente -- era de 74,00% de probabilidade de manutenção da Selic em junho, 20,25% de chances de alta de 25 pontos-base e 4,25% de possibilidade de elevação de 50 pontos-base.
Com o mercado reforçando as apostas na manutenção da Selic em junho, a dúvida agora é sobre quando o BC iniciará um novo ciclo -- desta vez, de cortes da taxa básica.
Para a economista-chefe do Morgan Stanley, Ana Madeira, o BC manterá a Selic em 14,75% até o fim do primeiro trimestre de 2026, embora o mercado esteja precificando reduções antes disso.
"O ponto em que eles (dirigentes do BC) estão 'hawk' é no 'higher for longer', mas o mercado não está querendo ler isso. O mercado quer cortes antes do final do ano e, de fato, está muito caro para o BC conseguir vender o 'higher for longer'", avaliou.
No exterior, às 16h48 o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 7 pontos-base, a 4,442%.