Moraes determina prisão de Zambelli, que deixou país após ser condenada pelo STF
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quarta-feira a prisão preventiva da deputada Carla Zambelli (PL-SP), que na véspera anunciou ter deixado o país após ter sido condenada a 10 anos de prisão pela corte por envolvimento na invasão hacker dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Moraes atendeu a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e ordenou, além da prisão preventiva, a inclusão do nome da parlamentar na lista de difusão vermelha da Interpol para fins de extradição; bloqueio de recebimento de quaisquer verbas de gabinete e outros recursos e bens; e bloqueio de contas dela em redes sociais, sob pena de imposição de multa às plataformas.
O magistrado também mandou apreender o aporte de Zambelli, que chegou a ser retido no curso das investigações, mas posteriormente foi devolvido.
"No caso de Carla Zambelli Salgado de Oliveira é inequívoca a natureza da alegada viagem à Europa, com o objetivo de se furtar à aplicação da lei penal, em razão da proximidade do julgamento dos embargos de declaração opostos contra o acórdão condenatório proferido nestes autos e a iminente decretação da perda do mandato parlamentar", disse o ministro na decisão, vista pela Reuters.
Zambelli foi condenada pela Primeira Turma do Supremo no mês ado por, segundo o tribunal, ter adulterado documentos como certidões, mandados de prisão, alvarás de soltura e quebras de sigilo bancário, com o objetivo de prejudicar a istração do Judiciário e a credibilidade das instituições e obter vantagens políticas.
Um dos documentos falsos inseridos no sistema do Judiciário por meio da invasão hacker da parlamentar, segundo o STF, foi um mandado de prisão contra Moraes.
Em entrevista na véspera ao canal do YouTube AuriVerde Brasil, Zambelli afirmou que estava fora do Brasil havia alguns dias para realizar um tratamento médico e que iria pedir licença não remunerada do cargo de deputada federal.
Procurada, a assessoria da deputada não respondeu de imediato a pedido de comentário. O advogado que a representou no processo no qual foi condenada anunciou ter deixado a defesa na terça-feira, após saber que ela saiu do Brasil.
No fim do dia nesta quarta-feira, o ministro Alexandre de Moraes determinou a abertura de um novo inquérito contra Zambelli para a apuração da suposta prática dos crimes de coação no curso do processo e obstrução de investigação.
A decisão foi tomada diante do anúncio da deputada de que deixou o país após sua condenação, e também após entrevistas da parlamentar na qual ela afirma sua intenção de seguir os os do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA e é investigado por obstrução de investigação e coação no curso do processo.
Não foi possível contatar a defesa da deputada fora do horário comercial para comentar o novo inquérito.
Eleita deputada federal em 2022, Zambelli se envolveu em uma grande polêmica na véspera do pleito daquele ano. Ela foi filmada apontando uma arma de fogo contra um homem em um cruzamento na cidade de São Paulo, apesar de a legislação eleitoral proibir o transporte de armas perto do dia da votação. Ela também é ré nesse caso pelo STF.
Em um dos vídeos do incidente que circularam nas redes sociais, Zambelli foi vista usando uma camiseta verde da campanha de Bolsonaro e apontando uma pistola para frente enquanto atravessa o cruzamento no bairro nobre dos Jardins, zona oeste da capital paulista.
O próprio Bolsonaro atribuiu a Zambelli sua derrota no pleito daquele ano. "Carla Zambelli tirou o mandato da gente. Ela tirou o mandato da gente", disse ele em uma entrevista este ano.