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Maior evacuação desde 1945: os países que convivem com bombas de guerras

No dia 4 de junho, três bombas da Segunda Guerra Mundial foram descobertas no distrito de Deutz, em Colonia, na Alemanha - Henning Kaiser/picture alliance via Getty Images)
No dia 4 de junho, três bombas da Segunda Guerra Mundial foram descobertas no distrito de Deutz, em Colonia, na Alemanha Imagem: Henning Kaiser/picture alliance via Getty Images)

Andreas Noll;

05/06/2025 10h12

A descoberta de três bombas remanescentes da Segunda Guerra Mundial não detonadas em Colônia, no oeste da Alemanha, obrigou a evacuação de 20 mil moradores do centro do município - a maior ação deste tipo desde 1945. Hospitais, casas de repouso e hotéis também foram fechados devido ao risco de os dispositivos explodirem durante a desativação.

No entanto, esta não é uma operação incomum no país, que sofreu intensos bombardeios aéreos das forças aliadas durante o conflito. Somente no ano ado, mais de 1,6 mil explosivos foram desativados apenas no estado da Renânia do Norte-Vestfália, onde está Colônia. A cidade virou alvo das forças aliadas devido à sua importância industrial e logística para o regime nazista.

Com o aumento das obras e escavações no município, mais explosivos não detonados aram a ser encontrados, a maioria datados da década de 1940. A prefeitura possui um departamento exclusivo apenas para prospectar e organizar a operação de desativação dos dispositivos.

Problema grave em Hamburgo, Verdun e Polônia

Na Alemanha, Hamburgo e Berlim também estiveram entre os principais alvos dos bombardeios aliados durante a Segunda Guerra. O estado alemão de Brandemburgo também costuma encontrar explosivos não detonados. Somente em 2024, especialistas encontraram 90 minas, 48 mil granadas, 500 bombas incendiárias e 450 bombas com mais de 5 quilos, além de cerca de 330 mil projéteis nesse estado.

Cidades como Dortmunde Frankfurt também enfrentam o problema. Em 2012, uma bomba precisou ser detonadaem Munique, pois não havia como desarmá-la. Procedimento similar acontece quando dispositivos são encontrados no leito de rios como o Elba e o Reno.

Mas essa herança da guerra não está presente somente na Alemanha. Artefatos explosivos não detonados das duas guerras mundiais são frequentemente encontrados na França e na Bélgica, especialmente nas regiões de Verdun e Somme, onde houve intensas batalhas na Primeira Guerra Mundial. Três anos atrás, a seca no Vale do Pó, na Itália, também revelou bombas não detonadas.

No Reino Unido, em 2021, uma bomba aérea alemã de 1 tonelada foi detonada em uma explosão controlada na cidade de Exeter, no sudoeste do país, danificando mais de 250 prédios.

A situação na Polônia e na República Tcheca também é crítica, onde há toneladas de explosivos enterrados desde as guerras mundiais. Em 2020, a bomba britânica "Tallboy", de 5 toneladas, foi desativada na cidade polonesa de Swinoujscie.

Em 2022, uma bomba da Segunda Guerra explodiu durante escavações em uma área residencial na República Tcheca e deixou um morto. Nos Bálcãs, em especial na região da Bósnia e Herzegovina, Croácia e Kosovo, minas terrestres remanescentes das guerras iugoslavas dos anos 1990 também continuam a provocar acidentes.

Perigos letais no Vietnã, Laos e Gaza

Em outros continentes, a situação também é grave. No Vietnã, Laos e Camboja, bombas de fragmentação americanas usadas nas décadas de 1960 e 1970 continuam causando mortes. Segundo a ONU, ainda restam 80 milhões de artefatos explosivos não detonados no solo do Laos, resultado de 500 mil ataques americanos realizados secretamente entre 1964 e 1973.

No Vietnã, os dispositivos remanescentes da Guerra do Vietnã causaram a morte de 40 mil pessoas. Outras 60 mil já morreram no Camboja pelo mesmo motivo.

Síria e Iraque enfrentam o mesmo problema. Em ambos os países, a estrutura de remoção de explosivos é insuficiente. A ONU afirma que os dispositivos não detonados no território palestino de Gaza, devastado pela guerra, representam um perigo mortal, mesmo enquanto Israel continua a bombardear a região.

Um terço da Ucrânia contaminado

Já a situação na Ucrânia é dramática. Desde a invasão russa em 2022, se estima que cerca de um terço do território ucraniano esteja contaminado com minas, bombas de fragmentação e outros dispositivos explosivos.

Mais de meio milhão de artefatos já foram desativados, mas milhões ainda permanecem. As consequências humanitárias e econômicas são imensas: centenas de civis morreram, vastas áreas de terras agrícolas se tornaram inutilizáveis e a perda de colheitas agrava a crise econômica.

Estados alemães arcam com custos

Na Alemanha, onde a maioria das bombas desativadas é da Segunda Guerra Mundial, são os estados que arcam com a maior parte dos custos de remoção. O governo federal é responsável somente pelas bombas alemãs da era do Reich Alemão (1871-1945). Tentativas de torná-lo responsável por todas as bombas não detonadas no país não tiveram sucesso. No ano ado, a remoção de explosivos custou à Renânia do Norte-Vestfália 20 milhões de euros (R$ 128 milhões).

Enquanto os custos aumentam, a tecnologia usada na desativação evolui. Na década de 1990, os especialistas ainda usavam as próprias mãos, martelos e alicates. Hoje, parte destas bombas são desativadas por meio de um corte por jato d'água abrasivo. Um cortador operado à distância com segurança pode atravessar o dispositivo explosivo e remover sua espoleta.

Especialistas acreditam que ainda existem dezenas de milhares de artefatos explosivos não detonados, chegando a 100 mil toneladas, somente na Alemanha.

Embora técnicas modernas de sondagem, detecção e fotografias aéreas digitalizadas ajudem a minimizar os riscos, cada operação de desativação é uma corrida contra o tempo. Quanto mais antiga a bomba, maior o risco de corrosão e explosão. Também é mais difícil desativá-la devido às alterações químicas que ocorrem ao longo do tempo entre o invólucro e a espoleta de ativação.

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