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COP: Produtora cobra trabalhos na floresta para evitar subemprego na cidade

Dona Nena, pequena produtora de chocolate orgânico da Ilha do Combu, na Amazônia, deverá falar na COP30, em Belém - Lucas Borges Teixeira/UOL
Dona Nena, pequena produtora de chocolate orgânico da Ilha do Combu, na Amazônia, deverá falar na COP30, em Belém Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL
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Do UOL, em Belém

08/06/2025 05h30

Quando perguntada pelo governo federal o que ela queria para a Ilha do Combu, em Belém, Dona Nena não hesita: "Uma mini-indústria". Uma das mais famosas produtoras de chocolate do Pará, ela luta pelo aumento de empregos "na floresta" para que a população originária não tenha de sair.

O que aconteceu

Natural do Combu, uma das maiores ilhas de Belém, Dona Nena produz chocolates com ingredientes orgânicos localmente desde 2006. Hoje, sua "fábrica de chocolate", a Filha do Combu, vende nacionalmente e se tornou um ponto turístico regional, com direito a visita guiada pela produção, café e museu do cacau.

Ela diz que luta pela preservação da floresta, mas de forma que desenvolva a população local. "Se não tem trabalho na floresta, as pessoas vão migrar para a cidade para trabalhar em subempregos", afirmou a produtora em encontro com a imprensa na última sexta (6).

"Dá para trabalhar com a floresta de pé? Dá. Mas até onde? Até onde eu posso ir? Até onde eu posso fazer o manejo para manter o produto final?", questiona a produtora. "Eu quero uma mini-indústria para a comunidade, com tecnologia, com as universidades trabalhando, para que a gente trabalhe isso com os colonos, para que eles sejam readores de produtos, não de matéria-prima. Para que eles tenham seus produtos com valor agregado. É o que eu quero."

Nena diz que foi convidada pelo governo estadual para representar os pequenos produtores da Amazônia na COP30. "Quero que nos levem a sério. Eu levanto a bandeira do pequeno produtor, que está aqui na ponta, que é o que mais sustenta o país, o que mais sustenta as pessoas na cidade", diz ela.

Atualmente, sua empresa emprega 16 trabalhadores locais. "Todos são CLT, com carteira assinada", diz, com orgulho.

Todo mundo diz 'Ah, a Amazônia é a coração do mundo, vamos manter a Amazônia de pé'. Mas eles vão lá ver como é que está o ribeirinho? Ver se ele tem o que comer, se ele tem escola? Porque, muitas vezes, eles [população nativa] saem e, de fato, acontece o êxodo rural, por conta disso [falta de alternativas]. Não é porque ele quer se meter lá na cidade, no meio de um monte de poluição, não. Ele quer uma qualidade de vida melhor para o seu filho no futuro.
Dona Nena, pequena produtora da Amazônia

A questão da terra

Segundo Nena, "a questão jurídica da terra", sem posse registrada do território, é a principal dificuldade para o pequeno produtor na Amazônia. A empresária reclama da organização dos governos federal e estadual em relação à regularização fundiária e argumenta que não adianta lançar linhas de financiamento se o terreno não está legalizado.

"Não adianta. O governo está liberando crédito pra isso, crédito pra aquilo. O que a gente pode ar?", questiona ela. "Não tem como ar se a primeira coisa que [fazem quando] você chega no Banco do Brasil é perguntar: 'Cadê a sua terra?'. Então, falta isso. É a primeira coisa que a gente precisa: a regularização, para que possamos trabalhar dignamente no campo, sustentando a cidade e mantendo a floresta de pé."

Os problemas com regularização fundiária são anteriores à Constituição de 1988 e se agravam quando se trata de território de floresta, em áreas não demarcadas. Sem documentos específicos emitidos pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), grande parte desses terrenos são considerados terras públicas sem destinação, mesmo que as pessoas ocupem o local há décadas, o que causa insegurança jurídica para moradores e produtores.

O Combu, a 15 minutos de barco do centro de Belém, foi onde o presidente Lula (PT) levou o presidente francês Emmanuel Macron, em março de 2024. A ilha é também um dos focos do projeto Capacita COP30, do governo estadual, que busca formar a população com serviços técnicos voltados ao turismo, como cursos para atendimento e garçom, e que facilitem a arrumar emprego durante a conferência, com aulas de inglês.

Quero que ele [o governo] veja a gente com essa responsabilidade e veja que a gente tá aqui. Muitas vezes [dizem] 'O ribeirinho é vadio', ele não é vadio. Muitas vezes ele precisa de oportunidade e ter o a tudo isso [mecanismos para contribuir com desenvolvimento sustentável], para que ele veja com os dois olhos. Ninguém ama o que não conhece. A partir do conhecimento, ele vai ar a amar, a respeitar e buscar melhorias. Porque ele quer melhoria para ele, para sua família. É isso que eu espero da COP.
Dona Nena, pequena produtora da Amazônia

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