Taxas sobem com ajuste das expectativas para Selic em meio a riscos para IOF
As incertezas sobre os impactos do confuso cenário fiscal brasileiro sobre a política monetária de curto prazo pesaram sobre o mercado de juros nesta quarta-feira. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,890%, de 14,841% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 14,23%, de 14,14% no ajuste de ontem, e a do DI para janeiro de 2028 subiu de 13,57% para 13,66%. A do DI para janeiro de 2029 terminou a 13,57% (de 13,53%).
Num dia de agenda local esvaziada, o mercado seguiu ajustando posições em meio à expectativa pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de junho, não somente para decisão sobre a Selic em si, mas também sobre a perspectiva para o futuro da taxa. A aposta de manutenção no nível de 14,75% na próxima semana, que ontem cresceu com a leitura do IPCA de maio, hoje voltou a perder força.
Segundo players nas mesas de renda fixa, esse movimento respondeu às dificuldades que o governo está enfrentando para emplacar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Ainda que a tendência seja de que a elevação do IOF, se efetivada, atue apenas na desaceleração via canal do crédito, ou seja um escopo bem menor do que os canais de transmissão da Selic, parte do mercado vê a medida como contracionista.
Na precificação dos DIs, a probabilidade de Selic estável caiu de 44% ontem para 32% nesta tarde, com a de alta de 25 pontos-base subindo de 56% para 68%. A projeção é de Selic terminal em 15,00% até setembro, com taxa 14,95% no fim do ano. Há aposta residual de corte de 5 pontos-base em dezembro.
O governo tem enfrentado resistência de parlamentares com relação ao IOF, que defendem uma saída para o cumprimento das metas do arcabouço fiscal via corte de gastos. "Eu já comuniquei à equipe econômica que as medidas que estão pré-anunciadas deverão ter uma reação muito ruim, não só dentro do Congresso, como também do empresariado", disse hoje o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que falou em "ingovernabilidade completa para quem quer que venha a ser presidente" caso não se discutam as despesas obrigatórias.
As discussões sobre o IOF acirraram os ânimos dos participantes da audiência pública conjunta das comissões de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, que ouviu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Houve bate-boca entre o ministro e deputados da oposição, o que levou ao encerramento precoce da sessão. No Senado, a oposição divulgou nota criticando as medidas e sugerindo "medidas estruturais".
A Medida Provisória (MP) com as propostas deve ser encaminhada ainda hoje ao Congresso. O economista-chefe da AZ Quest, André Muller, diz que o mercado está em como de espera para ver como será a negociação, sob o risco de não ver as receitas previstas realizadas e com dificuldades em avançar pelo lado da despesa. "O que poderia ser muito negativo para compensar a frustração com as receitas seria uma alteração da meta fiscal, mas esse ainda é um risco distante. Há espaço para negociação antes disso", prevê.