O presidente americano, Donald Trump, deu um tiro no próprio pé ao instigar manifestações de imigrantes, em Los Angeles (EUA), e pode ajudar a criar um novo líder democrata para as próprias eleições, avaliou o professor Leonardo Trevisan durante o UOL News, do Canal UOL.
Tem uma expressão bem nossa que pode vir junto com essa 'malandragem' do Trump: 'tiro no pé'. O que ele produziu foi exatamente isso. Ele conseguiu estabelecer uma liderança democrata, com pensamento moderado, em um estado que é fortemente democrata, dando um sinal de recuperação de identidade política. Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais
Os distúrbios começaram no último fim de semana na região de Los Angeles entre imigrantes e as forças de ordem. Os manifestantes foram às ruas em protesto contra a política imigratória de Trump. A Casa Branca reagiu de forma polêmica e anunciou o envio de 2.000 soldados para a Califórnia.
Além dos milhares de soldados, Washington anunciou que 500 fuzileiros navais estavam de prontidão e poderiam ser enviados para a região, o que seria um gesto sem precedentes. O governador do estado, Gavin Newsom, chamou o movimento de uma "crise fabricada" por parte de Trump e com o objetivo político e militar de impedir a ação de estados e da oposição.
Ao Canal UOL, o professor disse que o movimento arriscado de Trump, em um estado tradicionalmente democrata, pode ajudar a criar o seu próximo adversário político. Os efeitos disso, segundo Trevisan, poderiam ser sentidos já na eleição do ano que vem.
Os democratas começam a se juntar em torno de uma causa, em torno de uma liderança específica. É a única? Não, mas é esperta. Ele [Newson] está construindo alguma coisa. Ele está tentando manter a imagem de um político moderado, se apresentando como alguém que oferece garantias. Esse quadro é fundamental. Vai jogar no mundo democrata exatamente com as regras que elegeram Trump.
Se Trump escolheu o estado da Califórnia para fazer a provocação, ele escolheu de alguma forma aquele que vai ser aquele ou a causa que vai ser agregadora para a próxima eleição. E isso já vai ter sinais, não lá à frente, daqui a três anos, vai ser no ano que vem. Os EUA terão eleição no meio do mandato. O grande risco para Trump é perder o controle da Câmara e do Senado. Não nos enganemos.
Então, quando olhamos para esse quadro, de alguma forma, tem, sim, o cheiro de tiro no pé. Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais
Trevisan: 'Trump lembrou a Musk que poder manda em dinheiro'
A crise em Los Angeles eclodiu dois dias depois do rompimento entre o presidente e o bilionário Elon Musk, seu ex-aliado político.
Ambos iniciaram um embate público na última terça-feira (3), quando o dono do X chamou o novo orçamento do republicano de "abominação repugnante". Trump então rebateu dizendo que pediu para Musk deixar o governo e o chamou de louco em uma publicação.
No UOL News, o professor também traçou uma comparação da briga pública entre os dois com o roteiro da série americana House of Cards.
[Essa briga entre os dois] nos leva a fazer uma pergunta sobre quem tem o poder. Lembra da série House of Cards? O Frank Underwood [personagem fictício e protagonista da série] dizia que ele não respeitava quem queria dinheiro. Ele respeitava quem queria poder. Opa. Estamos vendo isso agora. Quem manda em quem?
O Musk percebeu que precisava voltar para a terra. Ele queria ir para Marte. É melhor voltar para a Terra, meu amigo.
Olha o que está acontecendo?! Quando você coloca, de fato, em confronto a lógica da essência do poder... Vamos lembrar de Mao Zedong: 'o vem da ponta do fuzil'. Não, o poder não vem só da ponta do fuzil militar. É a ponta do fuzil fisco, da promotoria pública, contrato... o Musk pensou duas vezes e decidiu recuar.
Na verdade, o que estamos vendo aí é uma discussão de quem manda em quem. É o poder que manda no dinheiro. O dinheiro é só a ferramenta. O Musk só foi usado para o Trump chegar ao poder. O Trump lembrou a ele qual é o poder que tem em Washington. Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais
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