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OPINIÃO

Glória Maria e a urgência de se divertir, ser feliz, aproveitar a vida

Glória Maria - Divulgação/TV Globo
Glória Maria Imagem: Divulgação/TV Globo
do UOL

Colunista de Splash

24/05/2025 05h30

A homenagem foi merecida. E o documentário de quatro episódios que celebrou a memória de Glória Maria (1949-2023) foi um dos pontos altos da comemoração de 60 anos da TV Globo. Foram quatro domingos, sempre depois do Fantástico, acompanhando os pontos altos da carreira de uma das jornalistas mais brilhantes da TV brasileira. Nasceu preta e pobre, e o documentário mostra como ela virou essa força, esse talento, esse acontecimento como repórter e personagem da TV.

Mas não foi só fazendo reportagens que Glória causou: ela amava festas, usava vestidos decotados, sempre de extremo bom gosto. Gostava de coisas boas, sofisticadas, caras. Era uma mulher elegante. Não perdia um baile de gala, um black-tie tipo aquelas festas do high-society do Rio e mesmo os de São Paulo —ela sempre estava presente entre os nomes mais estrelados, dos ricos e famosos.

Nas férias de verão no hemisfério Norte, ela sempre marcava presença. Amava Saint Tropez, frequentado por estrelas internacionais, playboys e ricos em geral: era só festa, champanhe, iates. Parecia até ser uma urgência de ter que se divertir, de ser feliz, de aproveitar a vida. Em muitos momentos, ela fazia uma dobradinha muito engraçada com Narcisa Tamborindeguy: uma dupla do barulho.

Glória Maria - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Narcisa Tamborindeguy e Glória Maria
Imagem: Reprodução/YouTube

Nos quatro episódios da série, foram devidamente mostrados os pontos altos na profissão, as grandes reportagens, as ousadias e a ausência total de medo. Desde o início, como repórter de rua, ela mostrava que nasceu para ser isso mesmo: essa desbravadora destemida e cheia de energia. Foram mostradas também todas aquelas viagens para lugares esquisitos e interessantes —até aquela famosa fumada de maconha na Jamaica (como aquilo foi engraçado? isso que naquela época nem existia meme).

Glória foi namoradeira e pouco se falou sobre seus casos amorosos, mas seu grande amigo, o jornalista Bruno Astuto, foi o responsável por deixar no ar aquilo que todo mundo já desconfiava: que ela teve um caso com Roberto Carlos.

Por uma ironia do destino, eu estava em Salvador quando descobri que Glória estava em processo de adoção de duas meninas. Ela me pediu segredo, quando a encontrei. Eu mantive e não me arrependo nem um pouco: mesmo sendo uma jornalista em busca de furos, aquilo tudo era tão forte, tão profundo, tão humano que eu preferi ser cúmplice de uma história de amor verdadeiro.

Glória maria - Instagram/mariamattadasilva - Instagram/mariamattadasilva
A jornalista Glória Maria e suas filhas Maria e Laura
Imagem: Instagram/mariamattadasilva

As duas meninas tiveram papel importante no documentário da TV Globo, que terminou com elas jogando as cinzas da mãe no mar em Búzios, em frente à casa onde avam as férias em família. O melhor amigo, Paulo Mesquita, tutor das meninas, também apareceu, assim como as funcionárias da casa, visivelmente emocionadas. Também colegas de trabalho, parte da família, muitos depoimentos que ajudaram a formar essa imagem sobre quem, afinal, era Glória de verdade.

Teve Michael Jackson, teve Madonna. Teve caderninho de anotações da repórter sempre alerta. Teve Olimpíada, Copa do Mundo, muita política. Falaram os motoristas e os produtores que trabalhavam a vida inteira com ela, para cima e para baixo, para a direita e para a esquerda, pelo mundo todo.

Glória marcou época, abriu caminhos e fez escola para tantas outras mulheres negras, profissionais da comunicação, também presentes nessa homenagem.
Foi bonito. E, sim, foi merecido.

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