Iraniano vencedor da Palma de Ouro já foi preso e impedido de fazer filmes

O diretor iraniano Jafar Panahi, 64, conquistou hoje a Palma de Ouro, no Festival de Cannes, pelo seu filme "It Was Just an Accident". Em um ano sem favoritos absolutos, o cineasta conseguiu completar a tríade de prêmios dos maiores festivais europeus de cinema: o Leão de Ouro, em Veneza; Urso de Ouro, em Berlim; e, agora, a Palma de Ouro, em Cannes.
Mas quem é Jafar Panahi?
"It Was Just an Accident" é o primeiro filme de Panahi após ele ter sido proibido por 14 anos de deixar seu país. Questionando um Estado autoritário, o filme do diretor iraniano propõe um debate moral ancorado em sua própria perseguição e prisão no Irã.
Jafar Panahi foi preso em 2010 por suposta propaganda contra o governo iraniano. O cineasta foi preso junto a sua família sob a acusação de que teria tentado fazer um documentário sobre os protestos contra a amplamente questionada reeleição de Mahmoud Ahmadinejad em 2009.
Por anos, Panahi foi impedido de sair do Irã devido a sua detenção política. Devido a essa prisão, o diretor também ficou impedido de fazer outros filmes e de viajar para fora do país, tendo ficado em prisão domiciliar em primeiro momento.
Sua situação foi motivo de protesto pelo mundo inteiro. Diversos atores, como Juliane Moore; diretores, como Martin Scorsese; e organizações, como a Federação de Diretores de Cinema Europeus, protestaram contra a prisão de Panahi ao longo dos anos.
Mesmo sem permissão do governo, Panahi continuou a dirigir. Em 2011, o cineasta lançou "Isto Não É Um Filme", documentário sobre sua prisão domiciliar —após isso, ele produziu quatro outros filmes antes de "It Was Just An Accident", todos tecendo, em algum nível, uma crítica ao autoritarismo e ao governo iraniano.
Em 2022, Panahi foi preso por protestar contra a prisão de outros diretores. O cineasta ficou preso por 48 horas após questionar a prisão dos cineastas Mohammad Rasoulof e Mostafa Al-e Ahmad, ambos detidos pelo governo iraniano.
Recentemente, ele recuperou o direito de viajar. "Eu ganhei a autorização de viajar de novo. Estou aqui com vocês e recebo esta alegria, mas não sinto a mesma emoção. Como posso estar feliz? Como posso ser livre enquanto, no Irã, ainda existem tantos dos maiores diretores e atrizes do cinema iraniano que, por terem participado e apoiado os manifestantes durante o movimento Femme Liberté, hoje não podem trabalhar?", afirmou Panahi em Cannes.
Seu filme foi produzido sem permissão do governo iraniano. Juntando diversos personagens perseguidos pelo estado, o filme questiona a moral deles ao encontrarem o oficial que torturou cada um deles —e terem que decidir o que farão com ele.