Parentes e amigos de Sebastião Salgado homenageiam o fotógrafo na França, em exposição do filho Rodrigo
As homenagens ao fotógrafo Sebastião Salgado, que morreu aos 81 anos de idade na sexta-feira (23) em Paris, continuaram neste sábado (24) na França. Um tributo foi prestado ao artista esta tarde na antiga igreja Sacré-Coeur de Reims, localizada a cerca de 140 quilômetros de Paris, na ocasião da abertura privada da exposição de Rodrigo Salgado, filho de Lélia e Sebastião Salgado.
Maria Paula Carvalho, de Paris
"Rodrigo, une vie d'artiste" (Rodrigo, uma vida de artista, em tradução livre) está em cartaz em Reims, no nordeste da França. "Ele desenhava desde pequeno, ele é um artista", disse Lélia Wanick Salgado na abertura da primeira mostra artística do filho. Para a exposição, uma dúzia de vitrais foi criada a partir de obras de Rodrigo, que tem 45 anos e é portador da Síndrome de Down.
"Ele realmente merece ser aplaudido", disse Lélia Salgado. "Ele também adora esportes, faz boxe, ginástica, Rodrigo é muito ocupado", comentou ela em francês, contando também sobre a rotina de acompanhamento do filho em um centro para pessoas com deficiência. "Estamos muito contentes de ver a exposição", continuou Lélia Salgado dentro da Igreja, acrescentando que era "uma grande honra para o filho".
O cineasta Juliano Salgado, outro filho de Sebastião Salgado e Lélia, discursou sobre as relações familiares e de amizade. "A maior parte das pessoas que estão aqui são nossos amigos, amigos de Lélia e de Sebastião, pessoas com as quais o Rodrigo e eu crescemos e que vieram celebrar a sua arte, mas também a família que permitiu a ele exercê-la", disse em francês.
"Nós sempre tivemos uma relação especial, forte. Nós sempre apoiamos o Rodrigo, assim como eu sempre me senti apoiado", completou Juliano, agradecendo por "pais que sempre os ajudaram a fazer escolhas". O cineasta descreveu o pai como o "fotógrafo da humanidade, da resistência da vida sobre as forças que destroem os homens e a natureza".
Sebastião Salgado é mundialmente reconhecido por seu trabalho documental em preto e branco, que retrata questões sociais, humanitárias e ambientais.
Juliano Salgado lembrou aos presentes sobre a recuperação de florestas no Brasil realizada pelo casal Lélia e Sebastião Salgado. "Uma floresta com uma biodiversidade imensa, eles trouxeram a vida para um lugar que estava morto", observou.
Desde 1998, o fotógrafo e sua esposa realizaram um projeto para recuperar a fazenda onde Sebastião Salgado cresceu em Aimorés, no interior de Minas Gerais. O local havia sido completamente degradado por pastos, o solo estava árido e exposto. Lá, foram plantadas mais de 7 milhões de mudas. O reflorestamento de 600 hectares trouxe de volta mais de 2 mil nascentes para a bacia do rio Doce.
"Sebastião morreu ontem e nós estamos aqui, de um lado reunidos nessa imensa tristeza, mas também celebrando a vida de Sebastião e a alegria de ver as obras de Rodrigo e o seu poder criativo", concluiu Juliano Salgado.
Imprensa sa homenageia o fotógrafo
Os jornais europeus destacam o imenso legado do brasileiro, que também tinha nacionalidade sa, lembrando sempre que sua exposição Gênesis foi o projeto fotográfico mais visto no mundo.
Le Monde enfatiza a trajetória de Salgado como um fotógrafo que capturou a condição humana e os desafios ambientais. O Libération deste sábado traz na capa uma foto do projeto Gênesis e diz que Salgado, o fotógrafo globetrotter, era o gigante do preto e branco. O espanhol El Pais diz que Salgado documentou a Amazônia e denunciou as injustiças contemporâneas.
Sebastião Salgado morreu em decorrência de uma leucemia grave, provocada por complicações da malária que ele contraiu em 2010 na Indonésia, quando trabalhava para o projeto Gênesis. A notícia do falecimento foi divulgada pela Academia sa de Belas Artes, da qual o brasileiro fazia parte desde 2017.
O fotógrafo continua sendo homenageado neste momento na França com uma retrospectiva reunindo 166 de suas obras no centro cultural Les Franciscaines, em Deauville, na região da Normandia, no norte do país. Uma outra homenagem a ele está marcada para acontecer na cidade no dia 1° de junho.
As mensagens de condolências e homenagens a Sebastião Salgado vêm de várias partes do mundo.
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) reagiu à morte do fotógrafo que comparou a uma "voz incontornável na denúncia das injustiças sociais que forçam milhões de pessoas a se deslocar". Segundo a entidade, o brasileiro ficou conhecido mundialmente por seu trabalho engajado, como "um cronista das rotas forçadas, mostrando que o deslocamento humano é uma questão que interpela a todos, uma responsabilidade compartilhada e que requer solidariedade para esta causa verdadeiramente humana".