Alemanha libera uso ilimitado de armas de longo alcance pela Ucrânia contra alvos na Rússia
O chanceler alemão, Friedrich Merz, anunciou na segunda-feira (26) que os principais aliados ocidentais da Ucrânia ? incluindo a Alemanha ? deixaram de impor restrições ao alcance das armas fornecidas a Kiev. A declaração marca uma mudança significativa na postura de Berlim em relação ao apoio militar à Ucrânia, embora Merz não tenha detalhado como essa decisão afetará os futuros envios de armamento.
"Não há mais limites de alcance para as armas entregues à Ucrânia. Nem pelos britânicos, nem pelos ses, nem por nós. Nem pelos norte-americanos", afirmou o chanceler alemão durante entrevista à emissora pública WDR, em Berlim. "Isso significa que a Ucrânia agora pode se defender atingindo, por exemplo, posições militares na Rússia ? o que, até pouco tempo atrás, não ocorria, salvo exceções. Agora, pode fazê-lo."
Friedrich Merz, que assumiu o cargo no início de maio, não especificou se essa mudança incluirá o envio dos mísseis de longo alcance Taurus, que têm capacidade para atingir alvos a mais de 500 km de distância. Sob a liderança do ex-chanceler Olaf Scholz, a Alemanha ? segundo maior doador de ajuda militar à Ucrânia ? se recusou a fornecer os Taurus, temendo uma escalada no confronto com Moscou.
Alemanha rompe resistência e sinaliza nova estratégia
Durante os dois primeiros anos da guerra, a Ucrânia enfrentou restrições quanto ao uso de armas ocidentais além da linha de frente. A medida visava evitar uma ampliação do conflito. A mudança de postura de Berlim, no entanto, ocorre após outras potências ocidentais já terem flexibilizado essas restrições.
Desde novembro de 2024, o então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou o uso de mísseis Atacms contra alvos em território russo. Britânicos e ses também liberaram o uso dos mísseis de cruzeiro Scalp em 2024. A Alemanha era o único país entre os principais aliados que ainda resistia.
"É uma mudança relevante na posição alemã", destacam analistas. Para Kiev, a decisão chega com atraso, mas é bem-vinda. A Ucrânia há tempos pede autorização para usar armamentos ocidentais em profundidade estratégica.
Com armamento próprio e parte do material já recebido, o país vinha realizando ataques dentro de limites previamente impostos, mas também ou a atingir alvos como depósitos, fábricas de armas e refinarias russas que financiam o esforço de guerra.
Em visita a Kiev, em 11 de maio, Merz descreveu a estrutura militar russa como uma "máquina de guerra" que precisa ser neutralizada.
Pressão sobre Moscou e Donald Trump
Na segunda-feira, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky voltou a cobrar sanções mais duras contra a economia russa, com o objetivo de forçar Moscou a aceitar um cessar-fogo e respeitar as normas internacionais.
Para o ex-oficial e analista de guerra francês Guillaume Encel, a declaração pública de Merz também tem implicações no cenário político norte-americano. "É uma forma de pressionar Donald Trump, que reluta em adotar uma posição firme contra Vladimir Putin", explicou à RFI. "Ao revelar que os EUA decidiram, na prática, intensificar a pressão militar sobre a Rússia, Merz envia um recado claro ? mesmo com os norte-americanos sustentando uma disposição para negociações", destacou.
Kremlin reage e alerta para "decisão perigosa"
O Kremlin reagiu com veemência. "Se essas decisões foram realmente tomadas, elas contrariam nossos esforços por uma solução política. Trata-se de uma decisão perigosa", afirmou Dmitri Peskov, porta-voz da presidência russa, em vídeo divulgado por veículos estatais.
Merz reiterou que os aliados europeus continuarão fazendo "tudo ao seu alcance" para manter o apoio militar à Ucrânia. Diante do fracasso das últimas tentativas de cessar-fogo, ele afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, interpreta ofertas de diálogo como sinal de fraqueza. "Se nem mesmo uma proposta de encontro no Vaticano foi aceita, precisamos nos preparar para uma guerra mais longa do que gostaríamos ? ou do que podemos imaginar", concluiu o chanceler.
(RFI com AFP)