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'Foi misoginia, machismo': ministras defendem Marina após ataques no Senado

do UOL

Do UOL, em São Paulo

27/05/2025 15h34Atualizada em 27/05/2025 21h21

Ministras do governo Lula saíram em defesa de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que abandonou uma sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado após uma série de embates envolvendo violência política de gênero.

O que aconteceu

Ministras criticaram senadores. À frente da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PR-PR) avaliou a postura dos senadores Marcos Rogério (PL-RO) e Plínio Valério (PSDB-AM) como ataques contra Marina. "Inissível o comportamento", tuitou Gleisi.

Para Margareth Menezes, da Cultura, ataques foram mais do que uma divergência política —"foi misoginia, machismo". "É a repetição de uma lógica que tenta diminuir, humilhar e constranger mulheres que ocupam espaços de poder e decisão", disse, cobrando ainda urgência na retratação dos senadores.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ressaltou que não é a primeira vez que Marina Silva vive esse tipo de ataque. "Sinto profundamente cada gesto de desrespeito como se fosse comigo. Porque é com todas nós", escreveu Anielle, que ainda falou sobre a relação de amizade que ambas mantêm.

Sonia Guajajara lembrou que Marina Silva já foi senadora e disse que "a reação contra sua figura fere as mulheres e o governo". "Esteve no Senado com a seriedade, responsabilidade e conhecimento sobre a questão ambiental que poucas pessoas acumulam no Brasil. Características que a qualificam para ser ministra de Estado de nosso país", falou a ministra dos Povos Indígenas.

A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, também cobrou retratação. "É um episódio muito grave e lamentável, além de misógino", disse ela, que classificou os ataques como "absurdos". "Ela foi desrespeitada e agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares. Em março, um deles já havia inclusive incitado a violência contra ela."

"As palavras que Marina teve que ouvir são inaceitáveis", disse Esther Dweck. À frente da pasta de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, ela disse que os ataques atingem todas as mulheres como ela, ministras que ocupam espaços de poder.

"Isso não pode ser normalizado", disse Simone Tebet. "Que atitudes como essas encontrem justiça - de forma clara, firme e urgente", completou a ministra do Planejamento.

Senador já falou que queria enforcar Marina. É a esse episódio que a ministra das Mulheres se refere. Na ocasião, Plínio Valério falou em um evento: "A Marina esteve na I das ONGs: seis horas e dez minutos. Imagine o que é tolerar a Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la".

É preciso que haja retratação do que foi dito naquele espaço e que haja responsabilização para que isso não se repita.
Márcia Lopes, ministra das Mulheres

Marina não está sozinha, seguiremos juntas, firmes. Não arão. Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva, alvo de mais um episódio inaceitável de violência política. É revoltante assistir ao desrespeito e à tentativa de silenciamento de uma mulher.
Margareth Menezes, ministra da Cultura

Totalmente ofensivos e desrespeitosos com a ministra, a mulher e a cidadã. Manifestamos repúdio aos agressores e total solidariedade do governo do presidente Lula à ministra Marina Silva.
Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais

A política precisa ser espaço de diálogo, escuta e construção democrática, não de violência, misoginia e intimidação.
Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos

Marina deixou senado após ofensas

Marina levantou e foi embora após senador ofendê-la. Plínio Valério, que já é alvo de representação no Conselho de Ética pelo episódio em que falou sobre enforcá-la, disse que não ela não merecia respeito. "Olhando para a senhora, estou falando com a ministra, e não com uma mulher", começou. "Eu sou as duas coisas", respondeu Marina. "A mulher merece respeito, a ministra, não", rebateu ele.

"Ou ele me pede desculpa, ou eu vou me retirar", condicionou Marina. Plínio Valério quis continuar a discussão, então ela recolheu seus papéis e foi embora. A sessão foi finalizada logo em seguida.

Episódio encerrou três horas de discussão acalorada. Rogério silenciou o microfone de Marina várias vezes durante a sessão, mas ela continuou falando.

O senador apontou suposta falta de modos da ministra. "Essa é a educação da ministra Marina Silva, ela aponta o dedo e...", ironizou. "Você gostaria que eu fosse uma mulher submissa, e eu não sou", respondeu Marina.

Senador reclamou da acusação de sexismo. "Agora é sexismo, ministra? Me respeite, ministra. Se ponha no seu lugar", falou.

Depois da sessão, Marina disse a jornalistas que "não aceita" que ninguém diga que ela deve "se pôr em seu lugar".

Estou aberta ao debate, ao diálogo. Agora, o que não pode é alguém achar que, porque você é mulher, porque você é preta, porque você vem de uma trajetória de vida humilde, que você vai dizer quem eu sou e que eu devo ficar no meu lugar. O meu lugar é onde todas as mulheres devem estar.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente

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