Governo israelense reage à pressão internacional sobre Gaza
Por James Mackenzie
JERUSALÉM (Reuters) - O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reagiu à crescente pressão internacional sobre a guerra em Gaza nesta quarta-feira, em meio a sinais cada vez mais profundos de divisão sobre a guerra no país, 600 dias após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.
Nesta quarta-feira, a Itália se juntou a uma lista cada vez maior de países europeus -- que tradicionalmente se abstinham de criticar Israel -- exigindo o fim da guerra, após a Alemanha subir o tom contra a campanha israelense no início da semana.
Netanyahu disse na semana ada que críticas semelhantes da França, Reino Unido e Canadá estavam "encorajando" o Hamas e disse que os líderes dos três países colocavam-se "do lado errado da história".
O ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, disse em uma conferência sobre antissemitismo em Jerusalém que Israel vive um momento "em que o antigo desejo de eliminar o povo judeu se tornou mais forte".
"O novo antissemitismo tem como alvo o Estado de Israel", disse. "Ele usa a demonização, a deslegitimação e padrões duplos".
Ele disse que organizações como o Tribunal Penal Internacional, que emitiu mandados de prisão contra Netanyahu por supostos crimes de guerra em Gaza, assim como apelos para impor um embargo de armas a Israel, minaram a capacidade do país de se defender.
"Remover o direito e a capacidade de Israel de se defender só pode significar uma coisa. Um segundo Holocausto", afirmou.
Em geral, países europeus afirmam explicitamente que Israel tem o direito de se defender. Mas tem havido um choque crescente com a escala da destruição em Gaza, o episódio mais mortal em décadas de conflito entre Israel e os palestinos.
O ataque liderado pelo Hamas matou cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns em Gaza no dia mais fatal para Israel desde sua fundação, em 1948. Sua campanha em resposta matou cerca de 54.000 palestinos, mais do que em qualquer outra das inúmeras rodadas de guerra entre os dois lados.
Netanyahu estabeleceu ligações diretas entre as críticas vindas da Europa e um aumento nos incidentes de antissemitismo que, segundo ele, faz parte de uma guerra de "civilização contra a barbárie" desencadeada pela guerra em Gaza.
HIPOCRISIA
Enquanto Israel reconhecia o marco do 600º dia da guerra, o coro de vozes internacionais ecoava as divisões cada vez mais acentuadas entre os próprios israelenses, já que a unidade inicial forjada pelo trauma de 7 de outubro enfraqueceu e os esforços para chegar a um cessar-fogo falharam.
Diante de um debate no Parlamento, Netanyahu acusou a oposição de hipocrisia após ela acusar seu governo de fracassar completamente em atingir seus objetivos de guerra. Ele disse que deve continuar até a vitória completa sobre o Hamas.
O primeiro-ministro rejeitou as acusações de que Israel esteja deliberadamente causando fome em Gaza, onde impôs um bloqueio de 11 semanas que só foi relaxado na semana ada, após uma pressão crescente de aliados próximos pela chegada de ajuda humanitária.
Mas até mesmo os Estados Unidos, aliado mais importante de Israel, parece estar mudando, com o presidente Donald Trump pressionando pelo fim da guerra, sob o argumento de que os palestinos no enclave am fome e precisam ser ajudados.
Pesquisas de opinião têm mostrado consistentemente uma maioria favorável a um acordo para trazer de volta os 58 reféns ainda mantidos em Gaza. As famílias e os apoiadores dos reféns têm realizado protestos regulares exigindo um acordo.
"O retorno dos reféns é a segurança de Israel. A maior parte do público sabe disso e está lhe pedindo uma decisão", disse Ofri Bibas, irmã do refém libertado Yarden Bibas, em um comício em Tel Aviv pelo marco de 600 dias.
"O senhor está falhando em sua recusa em fazer a única coisa que trará todos eles de volta -- declarar o fim da guerra."
Netanyahu, no entanto, continua a contar com o apoio da linha dura de seu governo, que se manifestou a favor da reocupação de Gaza e da expulsão da população palestina.
Uma pesquisa publicada no jornal de esquerda Haaretz nesta semana revelou que 82% dos entrevistados apoiam a expulsão dos palestinos de Gaza, sendo que 56% são a favor da expulsão dos cidadãos palestinos de Israel.
A mesma pesquisa, baseada em uma amostra de 1.005 israelenses judeus, revelou que quase 47% acreditavam que todos os residentes de uma cidade inimiga conquistada deveriam ser mortos de forma semelhante ao que a Bíblia diz que os antigos israelitas fizeram quando conquistaram Jericó sob a liderança de seu líder Josué.
(Reportagem de James Mackenzie)