Eletrobras contrata BTG para vender fatia na Eletronuclear, dizem fontes
Por Luciana Magalhaes e Leticia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A Eletrobras contratou o banco BTG Pactual como assessor no processo de venda de sua fatia minoritária na Eletronuclear, estatal que opera as usinas nucleares brasileiras, disseram três fontes à Reuters.
A saída da Eletrobras do capital da Eletronuclear, por meio da atração de um novo sócio para o governo na estatal nuclear, está prevista no amplo acordo fechado no mês ado para encerrar a ação no Supremo Tribunal Federal (STF), na qual a União questionava seu poder de voto na companhia elétrica.
O acordo celebrado permitiu que o governo brasileiro ampliasse sua representatividade no conselho da Eletrobras, enquanto a companhia reduziu a exposição aos negócios nucleares, podendo alienar até a totalidade de sua participação na Eletronuclear e ficando de fora de novos investimentos em Angra 3 caso o projeto siga adiante.
Depois da privatização em 2022, a Eletrobras deixou de ser controladora da estatal nuclear, mas permaneceu como sócia minoritária, detendo 35,9% das ações ordinárias e 67,95% do capital total.
Procurados, Eletrobras e BTG não comentaram.
A Eletronuclear opera as duas usinas nucleares do Brasil, localizadas em Angra dos Reis (RJ), que somam 1.990 megawatts (MW) de potência, e também é responsável pelo controverso projeto de Angra 3, uma nova unidade com 1.405 megawatts que está com obras paradas há anos e enfrenta dificuldades no governo para obter aval para sua conclusão.
A estatal nuclear também enfrenta desequilíbrio econômico-financeiro, com os recursos obtidos pela tarifa de suas usinas se mostrando insuficientes para cobrir os gastos elevados, principalmente com pessoal. A situação levou a empresa a implementar recentemente um amplo plano de corte de despesas, inclusive com demissões.
A procura por um novo sócio na Eletronuclear ocorre em um momento de ascensão da energia nuclear no mundo, com a fonte despontando como uma alternativa mais limpa do que combustíveis fósseis e mais confiável do que as renováveis eólica e solar. Vários mercados, como EUA e Europa, têm buscado reativar ou lançar novos projetos para atender a um crescente consumo de energia, impulsionado por indústrias como a de data centers.
No caso brasileiro, a atração de um novo sócio para a Eletronuclear pode se beneficiar do interesse mundial renovado pela fonte nuclear. O Brasil também possui uma das maiores reservas de urânio no mundo.
Em visita à China em abril, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, reuniu-se com representantes da China General Nuclear Power Group (CGN Power), a terceira maior companhia de energia nuclear do mundo. Durante o encontro, ele debateu oportunidades de cooperação com o país na cadeia nuclear.
Em maio, Silveira esteve na Rússia para o fortalecimento das relações bilaterais em áreas prioritárias para o Brasil, incluindo energia nuclear. Ele teve reunião com executivos da Tenex, subsidiária da Rosatom, estatais russas de energia nuclear.
A falta de um planejamento de longo prazo para a cadeia nuclear nacional, sem sinalização para novos investimentos, é vista como um empecilho para atrair um novo sócio para a Eletronuclear, segundo especialistas.
(Por Luciana Magalhaes e Letícia Fucuchima)