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Médico pedófilo é condenado à pena máxima de 20 anos de prisão na França

28/05/2025 11h57

O ex-cirurgião francês Joël Le Scouarnec, acusado de crimes sexuais, foi condenado à pena máxima de 20 anos de prisão, dos quais dois terços devem ser cumpridos integralmente, por estupro e agressão sexual contra quase 300 vítimas, a maioria menores de idade na época.  

"Foi levado em consideração que os atos cometidos foram particularmente graves devido ao número de vítimas, por serem menores de idade e pela natureza compulsiva das ações do ex-cirurgião, de 74 anos", declarou a juíza Aude Buresi, presidente do tribunal criminal, ao final do julgamento, que durou três meses.  

No entanto, Le Scouarnec não será submetido à determinação de segurança para mantê-lo em um centro especializado após o término da pena. A exclusão dessa medida levou em conta, entre outros fatores, seu "desejo de reparação" e sua idade. O homem, descrito pelo Ministério Público como um "diabo", vestia uma jaqueta preta e ouviu o veredito sem demonstrar emoção no banco dos réus.  

Já cumprindo uma pena de 15 anos de prisão, proferida na cidade de Saintes, no sudoeste da França, em 2020, por violência sexual contra quatro crianças, o ex-cirurgião foi condenado por cometer estupro e agressão sexual contra quase 300 pessoas entre 1989 e 2014.  

A sentença inclui um período de 15 anos de monitoramento socio-judicial, além de uma ordem médica e a proibição permanente de exercer a profissão médica ou de trabalhar com menores.  

O médico aposentado itiu todos os crimes, assumindo também a responsabilidade pelas mortes de duas vítimas - uma por overdose e outra por suicídio. "Não estou pedindo clemência ao tribunal. Apenas quero o direito de me tornar uma pessoa melhor e recuperar a humanidade que sempre me faltou", declarou o acusado, em sua última fala, na segunda-feira (26), ao final do julgamento, iniciado em 24 de fevereiro.  

O promotor Stéphane Kellenberger havia solicitado a pena máxima de 20 anos de prisão, acompanhada de diversas medidas de segurança, devido à "periculosidade" do acusado. Ele pediu, em especial, a medida de segurança, que se aplica principalmente a agressores sexuais e permite que criminosos com alto risco de reincidência sejam mantidos em centros especializados na França após o cumprimento da pena.  

"Extremamente culpado", Le Scouarnec "não está tentando escapar da pena solicitada pelo Ministério Público", afirmou um dos seus advogados de defesa, Maxime Tessier, argumentando que seu cliente foi "até onde se pode esperar de um réu perante um tribunal criminal". O advogado ainda reforçou que ele tem "o direito ao arrependimento".  

"Bomba atômica"  

Ao longo do julgamento, Joël Le Scouarnec alegou estar tentando "seguir em frente e se redimir", o que seus advogados defenderam como uma "abordagem voluntária".  

Alguns advogados das vítimas contestaram essa afirmação, chamando-a de mero artifício jurídico. "Reconhecer tudo é, na verdade, não reconhecer nada", criticou Giovanni Bertho-Briand.  

"Nos foi martelado seu grande arrependimento, como uma serenata ensaiada: 'Eu mudei'", afirmou a advogada Delphine Caro. "Mas quem você pretende convencer de que realmente mudou?"  

"Você é o pior pedófilo em massa que já existiu, a bomba atômica da pedofilia", declarou o advogado Thomas Delaby. "As vítimas nunca o perdoarão. Nunca", completou.  

"Nunca mais"  

Este julgamento provavelmente não será o último enfrentado pelo agressor sexual. "Provavelmente haverá outro processo", especialmente para vítimas que ainda não foram identificadas, afirmou o promotor durante suas alegações finais.  

Um grupo de manifestantes exibiu, às 13h30, uma faixa em frente ao tribunal representando 355 vítimas - incluindo aquelas cujo prazo de prescrição expirou ou que ainda não foram contabilizadas oficialmente. "Por trás desse número, existem, acima de tudo, pessoas reais", disse Gabriel Trouvé, de 34 anos, vítima do ex-cirurgião.  

Uma reunião está marcada para 11 de junho com o ministro da Saúde, Yannick Neuder, e Manon Lemoine, integrante do grupo de vítimas, que critica o "silêncio político" em torno do julgamento.  

"Trabalharei com o Ministro da Justiça, Gérald Darmanin, para garantir que nunca mais pacientes e crianças vulneráveis fiquem expostos a predadores sexuais", afirmou Neuder à Info, destacando a importância de ouvir as vítimas na reunião.  

"O que queremos dizer é: nunca mais. Como chegamos a uma situação como essa?", questionou.  

(Com AFP)

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