
Carros chineses já são uma realidade nas nossas ruas. Basta observar por alguns minutos que algum deles vai ar por você, pelo menos em grandes cidades brasileiras. Para quem trabalha neste setor, que é meu caso, é até difícil acompanhar todas as novidades apresentadas recentemente.
Fato é que os carros chineses estão fortes no mercado, com bons produtos e preços competitivos, o que tem preocupado os fabricantes mais tradicionais. Marcas como BYD e GWM não entraram para se aventurar e já abocanham uma importante fatia nas vendas. Não é por acaso que, em vez de competir com eles, algumas marcas tradicionais têm feito parcerias com eles.
Mas nem sempre foi assim. O começo dos carros chineses por aqui teve muita piada e desconfiança com a qualidade dos produtos. Convenhamos: tinham reais motivos para isso. O visual era de gosto duvidoso, muitas vezes cópias mal feitas de modelos consagrados. O acabamento era ruim, com comandos e estofamento de baixa qualidade. Já o pós-venda deu muita dor de cabeça para quem precisou de peças de reposição ou de reparabilidade.
Posso dizer com toda certeza que as pessoas que decidiram correr o risco de comprar um carro chinês há mais de 10 anos de uso se deram mal. Não existe um destes modelos que hoje seja bem visto e desejado no mercado.
Na coluna dessa semana vou listar alguns desses antigos chineses que merecem cuidado no mercado de usado.
Chery
A marca Chery, hoje representada pelo grupo Caoa no Brasil, é uma das que estão com forte presença no mercado. Modelos da família Tiggo são objetos de desejo da classe média. Mas antes o cenário era bem diferente para essa marca chinesa.
Quando ainda se chamava apenas Chery, comercializou modelos como Celer, Cielo, Face, QQ, S18 e Tiggo. Todos bem equipados, mas era notória a baixa qualidade do acabamento interno, com peças e estofamento frágeis. Para mim, avam a sensação de carros projetados para durar pouco, o que pode dar certo em alguns países, mas não aqui, onde o carro precisa encarar décadas e vários donos diferentes ao longo da vida.
O valor de mercado desses carros não a de R$ 40 mil na mais cara das configurações de um Tiggo 2015, a que tinha câmbio automático. Quem ainda é dono de um Chery com mais de 10 anos tem dificuldade de encontrar comprador no momento da revenda.
Lifan
Se foi ruim para quem apostou em um Chery, pior ainda para quem investiu em um Lifan. A marca ficou poucos anos no nosso mercado, com os modelos 320, 530 e X60.
O X60, por ser SUV, é o que melhor segura preço, mas não a dos R$ 35 mil para os que tem mais de 10 anos. Os outros, com muita sorte, encontraram compradores na faixa dos R$ 20 mil.
Sem representação e sucessores no nosso mercado, os poucos sobreviventes são raros nos classificados e a tendência é que desapareçam das ruas nos próximos anos.
Jac
Se eu tivesse que apostar em alguma chinesa do ado, seria a Jac. Chegou forte com modelos como J2, J3, J5 e J6, além da ajuda do Faustão como garoto-propaganda no começo. Mas ainda bem que apenas observei e não apostei nada, pois teria me dado mal.
Hoje a marca segue no país, mas as vendas são ruins e nem incomodam outras marcas chinesas. Nos quatro primeiros meses desse ano, pouco mais de 300 zero-km foram emplacados. Nem mesmo a recém-lançada picape Hunter conseguiu mudar esse quadro.
Nos classificados, esses Jacs mais antigos tem preços bem baixos, no máximo R$ 40 mil para os modelos 2015. Mesmo assim ficam encalhados, pois é difícil encontrar comprador - que geralmente prefere colocar seu dinheiro em algum nacional consagrado, mesmo que seja com motor 1.0 e sem equipamentos, do que 'casar' com um modelo desta marca chinesa.
Effa
Motivo de piada, a Effa foi das primeiras chinesas a chegar aqui e ficou famosa pela baixa qualidade. Seu principal modelo, o M100, era tão ruim que no teste de longa duração da revista Quatro Rodas foi devolvido antes de concluírem o teste. Entre algumas bizarrices, o pedal do freio entornou em uma frenagem mais brusca.
Hoje os poucos anunciados não am dos R$ 10 mil, e mesmo assim é precisa se odiar muito para colocar alguma grana em um carro como esse. Lamento para quem é dono de um Effa e tem esse peso morto na garagem, sem não conseguir ar adiante para ninguém.
Geely
Dona da Volvo, a Geely pode até ser importante globalmente, mas como marca foi um fiasco no Brasil. Também é dona da pouco conhecida Zeekr, marca de luxo posicionada acima da Volvo e que já emplacou cerca de 200 carros nesses primeiros meses de 2025.
Recentemente anunciou parceria com a Renault para lançar um SUV de luxo nos próximos meses, ou seja, teremos a marca de volta no país. Mas, no ado, a aventura no Brasil durou pouco e modelos como o sedã EC7 micaram com força no mercado.
Até tinha um visual agradável e poderia ser uma boa aposta. Mas mais uma vez eu fico feliz em não ter apostado e lamento por quem apostou. Devido a esse pouco tempo no mercado, hoje é um usado que ninguém quer.