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Organizações judaicas nos EUA criticam estratégia de Trump contra o antissemitismo

07/06/2025 11h13

Lutar contra o antissemitismo, sim, mas como? Nos Estados Unidos, muitas organizações judaicas lamentam o aumento dos incidentes de ódio, mas se opõem à estratégia de Donald Trump para combatê-los em meio às tensões provocadas pela guerra de Israel em Gaza.

Ataques contra funcionários da embaixada de Israel em Washington, bombas incendiárias contra uma eata no Colorado para pedir a libertação dos reféns israelenses sob poder do Hamas, tensões elevadas nas universidades: a violência relacionada ao ódio contra os judeus ou Israel disparou nos Estados Unidos. 

Em outubro, o conservador centro de estudos Heritage Foundation, que está por trás do "Projeto 2025", plano que molda a política de Trump, publicou o "Projeto Esther", uma "estratégia nacional" para combater o antissemitismo.

A iniciativa propõe "desmantelar" as organizações "anti-israelenses", "antissionistas" e "pró-palestinas" que integram a "rede de apoio ao Hamas" que se "infiltrou" em universidades como Columbia e Harvard.

Para isso, a Heritage Foundation defende medidas como demitir professores, impedir o o de estudantes estrangeiros às universidades, "expulsar" outros dos Estados Unidos e privar as universidades de recursos públicos, medidas que Donald Trump está tentando impor desde seu retorno ao poder em janeiro.

- "Completamente ridículo" -

A Heritage Foundation não respondeu aos pedidos de entrevista da AFP.

Stefanie Fox, diretora da organização Jewish Voice for Peace (JVP), afirma que não há dúvida de que "o Projeto Esther traça o caminho para que a istração Trump refine a regulamentação legal que promoverá o avanço dos objetivos de seu movimento MAGA" (Make America Great Again, Tornar os Estados Unidos Grandes de Novo)".

A JVP, uma organização judaica que pede a "interrupção do genocídio em Gaza", é citada no Projeto Esther como integrante da "rede de apoio" do movimento palestino Hamas.

"Isso é infundado, paranoico e ridículo", disse Fox, cuja organização está na ala à esquerda dos quase 7,2 milhões de judeus americanos, ao lado de figuras como Peter Beinart, autor do livro "Ser judeu após a destruição de Gaza".

Embora 89% dos judeus americanos afirmem que estão preocupados com o antissemitismo, 64% desaprovam os esforços do presidente para combatê-lo, segundo uma pesquisa recente do Jewish Voters Resource Center, um instituto especializado no eleitorado judaico americano.

"Há antissemitismo nas universidades, não vou negar (...) mas a ideia de que para combater o antissemitismo é preciso atacar o Ensino Superior é completamente absurda", disse à AFP Kevin Rachlin, um dos coordenadores do projeto Nexus.

A iniciativa, ao contrário do Projeto Esther, visa combater o antissemitismo sem restringir a liberdade de expressão, segundo Rachlin.

A estratégia de Trump "não protege os judeus, mas nos torna ainda menos seguros" porque busca "separar" a minoria judaica do restante do país e ignora o antissemitismo da direita, argumenta Rachlin.

"Os judeus estão mais seguros quando se unem a outros grupos e minorias", afirma, acrescentando que é melhor combater o antissemitismo conscientizando as pessoas e não atacando grupos ou universidades.

- Questão de idade -

A idade é um fator decisivo nas posições dos judeus americanos, destaca o escritor e jornalista Eric Alterman. 

"O que está acontecendo hoje em Gaza é muito difícil de digerir para os judeus americanos, especialmente para os jovens. Há uma linha divisória muito clara: quanto mais velho você é, mais você simpatiza com Israel; quanto mais jovem, mais você simpatiza com os palestinos", disse à AFP.

"A maioria dos judeus americanos (...) não gosta de (o primeiro-ministro Benjamin) Netanyahu, não gosta desta istração (Trump), não gosta da guerra em Gaza (...) e estão presos no meio", acrescenta Alterman, que recentemente publicou um artigo sobre "a próxima guerra civil judaica por Donald Trump".

Quando Trump critica o Ensino Superior em nome da luta contra o antissemitismo, muitos pensam que ele está "explorando" o tema para "destruir" a liberdade de expressão. 

Nas últimas semanas, 10 grandes organizações judaicas rejeitaram em uma carta a "falsa escolha" que o governo republicano propõe entre "segurança judaica" e "democracia".

"Não há dúvida de que o antissemitismo está aumentando, mas a democracia e o o ao Ensino Superior que permitiram aos judeus americanos prosperar durante séculos", argumentam.

Entre os signatários da cara está a União para o Judaísmo Reformista (URJ), liderada por David Saperstein, um dos rabinos mais influentes dos Estados Unidos.

Embora aprecie que o governo "preste atenção à crescente intensidade do antissemitismo", ele se opõe aos ataques às universidades, aos meios de comunicação e ao estado de direito.

"Ironicamente, estão atacando as instituições democráticas que deram aos judeus americanos mais direitos, mais liberdades, mais oportunidades do que jamais tivemos em nossos 2.600 anos de história de vida diaspórica", declarou à AFP.

gl/af/mr/fp

© Agence -Presse

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