Centenária, Biscoitos Bela Vista quer ampliar vendas no mercado online

A Biscoitos Bela Vista, fábrica centenária de São Paulo (SP), planeja aumentar sua presença online e tornar relevante a venda de seus alimentos em marketplaces nos próximos anos. Para que isso se torne realidade, a companhia precisa antes vencer a barreira da diferença de preços e do próprio costume do consumidor.
O que aconteceu
Hoje, a fábrica produz 100 toneladas de alimentos por dia, entre biscoitos, bolachas e salgados. São cerca de 36 mil toneladas por ano. A produção é transportada para todo o Brasil e também para Estados Unidos, Argentina, Peru e Japão — para atender à comunidade brasileira no exterior.
Desafio é ampliar vendas online. Jorge Conti, atual diretor-executivo da Biscoitos Bela Vista, diz que o desafio, agora, é desbravar um novo canal de vendas: o online. A ideia não é criar um marketplace próprio, mas sim marcar presença nos já existentes, como iFood, por exemplo. "Estamos conversando com algumas plataformas consolidadas para entender onde nossa proposta de portfólio pode se encaixar", diz Conti.
Dificuldade em ampliar as vendas pela internet. Conti aponta duas principais barreiras: o preço e a experiência do consumidor.
Preços mais altos nos marketplaces. Os preços dos produtos à venda nos marketplaces podem ser mais caros ou mais baratos do que aqueles praticados em pontos físicos de venda. No caso de alimentos, a tendência é ser mais caro, diz Conti. "Às vezes os preços no marketplace estão totalmente fora da realidade. O mesmo produto que está disponível nas prateleiras do supermercado aparece custando até três vezes mais online. E aí o consumidor acha que estamos querendo vender caro, quando, na verdade, há uma distorção na oferta."
Online não supera a experiência física. "A essência do alimento continua ligada à experiência física — ver o produto na prateleira, o tamanho da embalagem, os ingredientes. Uma foto digital muitas vezes não representa a real proposta do produto. O consumidor quer ver, entender, às vezes até provar antes de comprar",diz.
A preparação para entrar em marketplaces está nas fases iniciais. No entanto, Conti acredita que todo o setor deve sentir o canal online ganhar força em até cinco anos. "Por isso, estamos preparando nossos sistemas e estrutura para atuar nesse canal, com cuidado e estratégia", diz.
Tradição
Fundada em 1915 no bairro da Bela Vista, que deu o nome a empresa. A companhia mudou de endereço na década de 1930, onde está até hoje: Rua Canindé, nº 948. O bairro do Pari, que hoje só tem a fábrica da Bela Vista, já foi conhecido como o "bairro doce" da cidade, por abrigar fábricas de concorrentes como a Doces Neusa e a Doces Confiança, que saíram da região.
Não há planos para mudar de endereço. A empresa, porém, deve continuar por lá por mais alguns anos, mesmo que isso seja um entrave para a expansão prática das instalações. "Ainda temos um tempo aqui, mas já existe o entendimento, inclusive dentro do Conselho da família, de que a fábrica um dia precisará sair do centro de São Paulo e ir para outra região", revela. "Não é só levar as máquinas. É preciso levar o conhecimento também — e o conhecimento está nas pessoas. Isso é uma parte importante a considerar em uma mudança de sítio industrial", diz o diretor-executivo da Bela Vista.
CEO veio do mercado. Conti, que atua como CEO da companhia, traz sua experiência da Arcor para reformular os modelos de negócio da Bela Vista, companhia familiar na 4ª geração, com Cid Maraia e Laet Maraia dividindo a presidência.
A Biscoitos Bela Vista foi fundada em 1915 no bairro da capital paulista por Nicola Infante. A produção começou com doces finos e caseiros, como suspiros, paçocas, caramelos e chocolates. Alguns anos depois, Nicola decidiu sair do ramo e ofereceu vender sua pequena fábrica para seu melhor vendedor, o imigrante italiano Joaquim Maria de Almeida, que percorria as ruas de São Paulo com sua carroça vendendo doces e pães.
Joaquim comprou a fábrica com a ajuda de dois sócios por 80 contos de réis, ainda na década de 1930. Logo, expandiram a produção e instalaram a nova fábrica na Rua Canindé, no bairro Pari, onde está até hoje. O portfólio aumentou e ou a incluir bolachas e biscoitos maisena, que começaram a ser enviados para todo o Brasil.
Com o sucesso, em 1969 Joaquim comprou as ações dos sócios e firmou a empresa como 100% familiar. Hoje, está na 4ª geração da família.
O carro-chefe da empresa é um biscoito lançado nos anos 1970. Tuc's, a linha do biscoito salgado — redondo e com a clássica embalagem transparente —,foi lançado nos anos 70 e segue sendo o carro-chefe de toda a empresa. O Tuc's foi um dos primeiros snacks industrializados lançados no Brasil e logo caiu no gosto do brasileiro. Ao longo do tempo, outras marcas ganharam destaque na receita da empresa: Fazendinha, linha infantil, e os próprios biscoitos Bela Vista, com recheados e wafers.