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"Fomos sequestrados em águas internacionais", diz Greta Thunberg; brasileiro permanece detido em Israel

10/06/2025 12h56

Os doze integrantes da Flotilha da Liberdade, navio humanitário que tentava furar o bloqueio de Israel para levar ajuda a Gaza, tiveram a opção de aceitar a extradição ou continuar presos. A ativista Greta Thunberg estava de volta a caminho da Suécia, nesta terça-feira (10). O brasileiro Thiago Ávila continua detido, segundo a Coalizão da Flotilha da Liberdade.

A Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC, na sigla em inglês) lançou um comunicado atualizando a situação dos ativistas detidos na véspera por Israel: quatro, incluindo Greta Thunberg, foram deportados, e oito permanecem sob custódia israelense. Entre estes últimos está o brasileiro Thiago Ávila, 38 anos, natural de Brasília.

A RFI entrou em contato com as embaixadas do Brasil em Tel Aviv e em Ramalá para saber do paradeiro exato de Ávila, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Forças israelenses interceptaram o barco, operado pela FCC, em águas internacionais na segunda-feira (9) e o rebocaram para o porto de Ashdod. Em seguida, os ativistas foram transferidos para o aeroporto Bem Gurion, perto de Tel Aviv.

Itamaraty

Ainda na segunda-feira, Lara Souza, mulher de Thiago Ávila, esteve no Itamaraty e a secretária-geral, embaixadora Maria Laura da Rocha, confirmou a chegada do ativista ao aeroporto de Tel Aviv e assegurou a presença de funcionários da embaixada em Israel "para garantir que o brasileiro receba tratamento digno e tenha seus direitos observados".

Além de Thunberg, foram deportados o médico francês Baptiste André, o jornalista francês Omar Faiad e o espanhol Sérgio Toribio. O ministério das Relações Exteriores de Israel publicou no X fotos de Thunberg sentada em um assento de avião.

"Fomos sequestrados em águas internacionais", acusou Thunberg a jornalistas ao chegar no aeroporto de Roissy-Charles de Gaulle para fazer escala antes de seguir para Estocolmo. Ela declarou que o grupo, que deixou a Itália em 1° de junho, não infringiu nenhuma lei.

A FCC explica que os que não aceitaram ser deportados vão comparecer diante de um tribunal. Os advogados da ONG vão pedir a soltura dos ativistas, trazidos à revelia de águas internacionais ao solo israelense. "Sabemos que o que Israel chama de 'sistema judiciário' existe para perpetuar o apartheid, ocupação e colonização - e não para trazer justiça", diz a FFC.

O grupo lembra que há mais de 10.400 palestinos presos em Israel, citando um relatório de 4 de junho da ONG Addameer Prisoner and Human Rights Association. Desses, 400 são menores de idade e mais de 3.500 palestinos estão detidos sem processo ou acusação.

A embarcação que transportava ativistas ses, alemães, brasileiros, turcos, suecos, espanhóis e holandeses tinha o objetivo declarado de entregar ajuda humanitária e quebrar o bloqueio israelense no território palestino.

Críticas 

Imagens divulgadas pela FFC mostraram ativistas a bordo da embarcação com coletes salva-vidas laranjas e as mãos levantadas durante a interceptação de segunda-feira.

Alguns entregaram seus telefones celulares segundo as instruções, mas outros jogaram seus celulares ou tablets no mar.

A FFC, criada em 2010, é um movimento internacional não violento de solidariedade com os palestinos, que combina ajuda humanitária e protesto político contra o bloqueio de Gaza.

Depois de alcançar a costa egípcia, o veleiro se aproximou de Gaza, apesar das advertências israelenses contra qualquer tentativa de "romper o bloqueio marítimo" do território, "cujo principal objetivo é impedir a transferência de armas para o Hamas".

O Ministério das Relações Exteriores de Israel havia antecipado que os ageiros do barco seriam enviados aos seus países de origem.

O canal Al Jazeera (Catar) condenou o "ataque israelense ao barco" e exigiu a libertação de seu repórter Omar Faiad.

O Irã, inimigo declarado de Israel, condenou a interceptação do barco, que chamou de "ato de pirataria".

A Turquia chamou a operação de "ataque odioso" e "violação flagrante do direito internacional".   

Condições humanitárias terríveis

A interceptação do Madleen por Israel, a cerca de 185 quilômetros (115 milhas) a oeste da costa de Gaza, foi condenada pela Turquia como um "ataque hediondo" e pelo Irã como "uma forma de pirataria" em águas internacionais.

Em maio, outro navio da Freedom Flotilla, o Conscience, foi danificado em águas internacionais ao largo de Malta enquanto se dirigia para Gaza. Os ativistas disseram que suspeitavam de um ataque de drone israelense.

Uma incursão de comando israelense em 2010 no navio turco Mavi Marmara, que fazia parte de uma tentativa semelhante de romper o bloqueio naval, deixou 10 civis mortos.

No domingo, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse que o bloqueio, em vigor há anos antes da guerra Israel-Hamas, era necessário para impedir que militantes palestinos importassem armas.

Israel enfrenta uma pressão crescente para permitir a entrada de mais ajuda em Gaza para aliviar a escassez generalizada de alimentos e suprimentos básicos.

Israel permitiu recentemente a retomada de algumas entregas após impedi-las por mais de dois meses e começou a trabalhar com a recém-formada Gaza Humanitarian Foundation (GHF), apoiada pelos EUA.

Mas agências humanitárias criticaram a GHF e as Nações Unidas recusam-se a trabalhar com ela, citando preocupações sobre suas práticas e neutralidade.

Dezenas de pessoas foram mortas perto de pontos de distribuição da GHF desde o final de maio, de acordo com a agência de defesa civil de Gaza.

Uma comissão independente das Nações Unidas disse na terça-feira que ataques israelenses a escolas, locais religiosos e culturais em Gaza equivalem a crimes de guerra e ao crime contra a humanidade de buscar exterminar palestinos.

"Extermínio"

"Ao matar civis abrigados em escolas e locais religiosos, as forças de segurança israelenses cometeram o crime contra a humanidade de extermínio", disse a Comissão de Inquérito Internacional Independente da ONU sobre o Território Palestino Ocupado em um relatório.

A AFP ou as autoridades israelenses para comentar o relatório, mas ainda não recebeu uma resposta.

O exército israelense disse que interceptou um projétil na terça-feira que havia entrado no espaço aéreo israelense vindo de Gaza.

Mais tarde, pediu aos residentes que deixassem vários bairros no norte do território palestino.

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 que desencadeou a guerra resultou na morte de 1.219 pessoas do lado israelense, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP de números oficiais.

O ministério da saúde em Gaza, governada pelo Hamas, diz que pelo menos 54.981 pessoas, a maioria civis, foram mortas no território desde o início da guerra. A ONU considera esses números confiáveis.

Dos 251 feitos reféns durante o ataque do Hamas, 54 continuam detidos em Gaza, incluindo 32 que o exército israelense diz estarem mortos.

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