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Gelo derrete 17 vezes mais rápido que a média na Groenlândia

Icebergs flutuam nas águas de Nuuk, na Groenlândia, onde temperaturas foram até 3,9°C mais quentes que o normal - Odd Andersen - 11.mar.2025/AFP
Icebergs flutuam nas águas de Nuuk, na Groenlândia, onde temperaturas foram até 3,9°C mais quentes que o normal Imagem: Odd Andersen - 11.mar.2025/AFP
do UOL

Patrícia Junqueira

De Ecoa, em São Paulo

11/06/2025 01h00

Um estudo divulgado hoje pelo grupo científico World Weather Attribution concluiu que a onda de calor recorde registrada em maio na Islândia e na Groenlândia foi, em média, 3°C mais quente por causa das mudanças climáticas provocadas pela queima de combustíveis fósseis. A pesquisa mostra que o aquecimento global já impõe riscos imediatos até a países de clima frio, com impactos diretos na saúde das populações locais e no equilíbrio climático global.

O que aconteceu?

Onda de calor recorde na Islândia e na Groenlândia. No dia 15 de maio, a estação do aeroporto de Egilsstaðir, na Islândia, registrou 26,6°C — novo recorde nacional para o mês. Poucos dias depois, em 19 de maio, Ittoqqortoormiit, no leste da Groenlândia, marcou 14,3°C, muito acima da média histórica de 0,8°C para o período.

Perda massiva de gelo. Segundo os cientistas, o aquecimento global tornou a onda de calor cerca de 3°C mais quente na Islândia e até 3,9°C mais quente na Groenlândia, em comparação com o clima pré-industrial. Na Groenlândia, o derretimento da camada de gelo durante os sete dias de calor foi 17 vezes superior à média para o mês.

Impactos imediatos e futuros. Além do derretimento acelerado, o calor precoce traz riscos para populações vulneráveis. Na Islândia, o aumento súbito de temperatura pode afetar especialmente pessoas com problemas de saúde, antes que o corpo se acostume às mudanças. Na Groenlândia, o gelo marinho mais fino dificulta o o das comunidades indígenas inuit aos territórios de caça tradicionais e ameaça modos de vida milenares — inclusive provocando uma redução drástica no número de cães de trenó, usados há séculos na região.

Derretimento pode ser irreversível. A pesquisa reforça o alerta sobre o ponto de não retorno do manto de gelo da Groenlândia. Cientistas estimam que até mesmo 1,5°C de aquecimento pode desencadear um colapso irreversível das geleiras, elevando o nível do mar em vários metros nos próximos séculos. Isso colocaria em risco a sobrevivência de nações insulares, como Vanuatu, Kiribati e Tuvalu.

Derretimento afeta a circulação oceânica global. A Corrente de Revolvimento Meridional do Atlântico (AMOC), que regula o clima em várias partes do mundo, pode enfraquecer ou colapsar com o avanço do aquecimento, provocando mudanças climáticas severas e generalizadas.

Cientistas reforçam alerta sobre combustíveis fósseis. Se o aquecimento global atingir 2,6°C até 2100 — como previsto caso as emissões sigam no ritmo atual — ondas de calor como a registrada em maio poderão ser ainda 2°C mais intensas, advertem os pesquisadores.

O que acontece no Ártico não fica no Ártico. Sabemos exatamente o que está causando o aquecimento e o derretimento — a queima de petróleo, gás e carvão. A boa notícia é que podemos impedir que o calor extremo piore ainda mais, o que exige abandonar os combustíveis fósseis. Isso não requer mágica. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários — mas é preciso reconhecer que os direitos humanos são para todos, não apenas para os ricos e poderosos. Friederike Otto, climatologista do Imperial College London

Ártico aquece mais do que o dobro da média global. O fenômeno do "amplificação ártica" — no qual o Ártico aquece mais rápido do que o restante do planeta — está diretamente ligado à perda do gelo, que é substituído por oceano escuro, capaz de absorver muito mais calor solar.

Estudo envolveu especialistas de seis países. O estudo contou com a participação de 18 cientistas de universidades e institutos meteorológicos da Islândia, Dinamarca, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos e Países Baixos. Halldór Björnsson, do Escritório Meteorológico da Islândia, afirma que os eventos recentes representam uma ruptura nas estatísticas históricas. "Estamos vendo algo além de um evento isolado. É uma mudança no padrão do clima."

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