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Não aceito que alguém me diga que tenho que me pôr no meu lugar, diz Marina

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente no governo Lula - Rogério Cassimiro / MMA
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente no governo Lula Imagem: Rogério Cassimiro / MMA
do UOL

Do UOL, em São Paulo

27/05/2025 14h44Atualizada em 27/05/2025 17h55

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reagiu aos ataques machistas que recebeu hoje de senadores e que a levaram a deixar uma sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado. Ela disse que "não aceita" que ninguém diga que ela deve "se pôr em seu lugar".

'Meu lugar é onde todas as mulheres devem estar'

A ministra respondeu ao senador Marcos Rogério (PL-RO), que disse durante a sessão que Marina deveria "se pôr no seu lugar" e silenciou o microfone dela diversas vezes.

Estou aberta ao debate, ao diálogo. Agora, o que não pode é alguém achar que, porque você é mulher, porque você é preta, porque você vem de uma trajetória de vida humilde, que você vai dizer quem eu sou e que eu devo ficar no meu lugar. O meu lugar é onde todas as mulheres devem estar.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente

'Meu lugar é o da defesa da democracia'

Marina também respondeu aos ataques do senador Plínio Valério (PSDB-AM), alvo de representação no Conselho de Ética por dizer, em março, que gostaria de enforcar a ministra. Ela deixou a sessão de hoje na comissão após o parlamentar dizer que Marina não merecia respeito.

"Olhando para a senhora, estou falando com a ministra, e não com uma mulher", disse Plínio. "Eu sou as duas coisas", respondeu Marina. "A mulher merece respeito, a ministra, não", rebateu ele. Marina disse que não vai tolerar este tipo de ataque.

Eu não posso aceitar que digressões sejam feitas de forma desrespeitosa com o trabalho do ministério, o trabalho que minha equipe faz de forma técnica. E muito menos que alguém venha me dizer que eu tenho que me colocar no meu lugar. Meu lugar é o da defesa da democracia, do meio ambiente, do combate à desigualdade, do desenvolvimento sustentável.

E, ainda, o senador que já disse que era muito difícil ficar seis horas e dez minutos —contou até os minutos— sem me enforcar. Hoje, ele chega lá numa sessão em que eu fui convidada como ministra do Meio Ambiente, ele começa dizendo que ia fazer uma separação entre a mulher e a ministra, que a mulher deveria ser respeitada e a ministra, não.

'Me senti agredida fazendo o meu trabalho'

A ministra afirmou que foi vítima de violência política de gênero pelos ataques que sofreu dos senadores,

Isso [violência de gênero] acontece com a gente o tempo todo. E eu agora usei o 'a gente' para criar sororidade entre nós porque vocês, no governo anterior, muitas jornalistas também foram agredidas fazendo o seu trabalho, e eu me senti agredida fazendo o meu trabalho.

'Não respeitam a democracia e as mulheres'

Ainda na entrevista a jornalistas, Marina lembrou que pediu a Plínio que se descule por ter dito que não a respeitava. Como isso não ocorreu, ela deixou a sessão. A ministra disse também que os parlamentares responsáveis pelos ataques não respeitam a democracia e as mulheres.

Não fui convidada lá por ser mulher, eu fui convidada por ser ministra. E, como convidada, eu dei a chance de que ele pedisse desculpas, e aí eu permaneceria na reunião. Como pessoas que não respeitam a democracia, não respeitam as mulheres, não respeitam os indígenas, não respeitam o povo preto, não são afeitos a pedir desculpas, ele disse que não ia se desculpar. Obviamente, eu me retirei da audiência.

'Atribuem a mim responsabilidades que são deles'

Em outro embate na audiência, o senador Omar Aziz (PSD-AM) culpou Marina pela aprovação, no próprio Senado, do projeto que muda regras do licenciamento ambiental, na semana ada. "A culpa da lei aprovada é da senhora", disse.

Nas redes sociais, a ministra se pronunciou sobre o episódio.

Tive que ouvir pessoas que atribuem a mim responsabilidades que são delas. Pois dizer que a demolição da legislação ambiental que foi feita pelo Senado Federal, na semana ada, é minha responsabilidade, com o relatório que foi aprovado, é não querer honrar o voto de quem os elegeu. Ou algum parlamentar vota algo contra sua vontade?

Voltar ao início do século 20, quando não havia regramento algum, voltar para o tempo da hidrelétrica de Balbina (AM), de Cubatão (SP), em que as coisas eram feitas sem nenhuma preocupação com o meio ambiente, não é uma decisão da ministra Marina Silva. É uma decisão da sociedade brasileira.

O licenciamento ambiental é uma conquista da sociedade brasileira e, neste momento, sinceramente, só o povo brasileiro pode evitar o desmonte que está sendo proposto. Quem vota a favor desse desmonte pode pensar que está agredindo uma pessoa, mas está agredindo um povo, o futuro de um povo, até mesmo os direitos econômicos estratégicos de um povo.

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