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Debate no PT traz críticas a corte de gastos e defesa de guinada à esquerda na gestão Lula

O presidente Lula e Edinho Silva (PT-SP) - Ricardo Stuckert/Instagram Edinho Silva
O presidente Lula e Edinho Silva (PT-SP) Imagem: Ricardo Stuckert/Instagram Edinho Silva

Brasília

03/06/2025 08h35

Divergências sobre os rumos do PT e do governo Lula marcaram o primeiro debate entre os candidatos à presidência do partido, na noite desta segunda-feira. Favorito na disputa, o ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva - que é apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - foi o principal alvo dos ataques.

Críticas à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), aos juros altos praticados na gestão de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central e a alianças com o Centrão ocuparam boa parte das discussões.

Adversários de Edinho, o deputado Rui Falcão, o historiador Valter Pomar e o secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira, pregaram uma guinada à esquerda do governo. Avaliaram, ainda, que Lula precisa ir para as ruas e mudar a política econômica, se quiser vencer a próxima disputa contra a direita, em 2026, mesmo sem o ex-presidente Jair Bolsonaro no páreo.

As eleições que vão renovar o comando do PT, com voto dos filiados, ocorrerão em 6 de julho. O que está em jogo nesse embate, porém, vai além da escolha de uma cúpula partidária. O novo presidente do PT ficará à frente da sigla até 2029 e dirigirá a campanha de Lula ou de quem ele ungir como sucessor para o confronto do ano que vem. Além disso, terá a tarefa de começar a preparar o período pós-Lula.

Coube a Edinho, alvejado pelos oponentes, defender o governo no debate. Ao ouvir Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, afirmar que o momento era grave e que ele não estava tratando do socialismo como norte, o ex-prefeito se exaltou.

"Eu não trato o socialismo como se fosse a tomada de assalto de poder de dentro do gabinete", reagiu Edinho, candidato da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT. "A consciência da classe trabalhadora não se faz com gente discursando, bravateando", completou ele, citando bandeiras do PT, como o orçamento participativo.

A preocupação com o avanço da extrema-direita apareceu em vários momentos da discussão. "Estamos correndo o risco de virar um partido meramente institucionalizado e, pior, que não ganha eleição", resumiu o deputado Rui Falcão, ex-presidente do PT. "Vamos combinar: a direita tomou as ruas da gente".

Apoiado por várias tendências de esquerda, Falcão votou contra o corte de gastos proposto por Haddad, no ano ado. "Quero crer que esse pacote do corte de gastos é um dos fatores que tem contribuído para que o presidente Lula não tenha recuperado a popularidade", destacou.

A taxa básica de juros (Selic) na estratosfera após Galípolo assumir a presidência do Banco Central foi descrita no auditório do Diretório Nacional do PT, em Brasília, como algo "inaceitável".

Em uma alfinetada na direção de Galípolo, Falcão chegou a dizer que o nome tratado como "lesa-pátria", antes, era o de Roberto Campos Netto. "Não dá para o nosso governo indicar o atual presidente do Banco Central e ele colocar a maior taxa de juros", concordou Romênio Pereira, candidato da tendência Movimento PT.

Romênio disse que tem ouvido "muita reclamação" sobre o terceiro mandato de Lula. "Eu sinto que o governo está muito fechado em alguns grandes centros do País. Isso é errado. É difícil ver ministros andando pelo interior. Não sei qual ministro já visitou Roraima, Acre...", observou o secretário de Relações Internacionais do PT. "Quando o presidente vai aos Estados (as pessoas), não podem sequer chegar perto do palanque."

Uma dos poucos pontos de acordo entre Edinho e seus adversários foi a constatação de que o PT se distanciou da juventude. "Mas não tem como trazer a juventude se não tiver um projeto de futuro", provocou Falcão. "O Brasil está encalacrado no limbo perpétuo de um fazendão: estamos submetidos ao agronegócio e não temos apoio para fazer a reforma agrária", emendou.

Apesar de morno, o primeiro debate entre os candidatos do PT serviu para mostrar as divisões do partido, principalmente em relação ao que deve ser feito para corrigir a rota do governo, que enfrenta uma crise atrás da outra.

Pomar afirmou que Haddad não podia ceder à "chantagem" do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que deu um ultimato até 10 de junho para a equipe econômica apresentar uma alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). "Querem nos obrigar a fazer o ajuste no lombo da classe trabalhadora", avaliou o candidato da Articulação de Esquerda. "É uma pancada ou para nos derrotar (em 2026) ou para criar uma situação de ingovernabilidade".

Sem citar o nome de José Múcio Monteiro, Pomar também voltou a defender a saída do ministro da Defesa. "A gente precisa de um ministro da Defesa capaz de olhar para os acampamentos (do 8 de Janeiro) e ver golpistas, e não parentes e amigos", criticou.

Falcão, por sua vez, cobrou que o PT se organize para 2026 com um pé nas instituições e "muitos pés" nas ruas. "Quando um partido perde sua identidade, sua razão de ser, ele fenece", argumentou, sem rodeios.

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