Produção industrial no Brasil cresce menos do que o esperado em abril mas chega a 4 meses de ganhos
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A produção industrial cresceu menos do que o esperado em abril no Brasil, dando sequência a uma tendência de acomodação em ambiente de incertezas externas e juros elevados, mas ainda iniciou o segundo trimestre com o quarto mês seguido de ganhos.
Em abril, a produção industrial avançou 0,1% na comparação com o mês anterior, resultado que ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,3%, mas ainda foi o mais elevado para o mês desde 2022.
Ante o mesmo mês de 2024, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta terça-feira que houve queda de 0,3%, interrompendo dez meses consecutivos de crescimento.
O resultado anual também frustrou a projeção na pesquisa da Reuters, de avanço de 0,3%. Segundo o IBGE, o recuo nessa base de comparação foi influenciado tanto pelo efeito-calendário, já que abril de 2025 teve dois dias úteis a menos, como também pela base de comparação elevada.
Com a indústria brasileira ainda 14,3% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, o cenário é de juros elevados por período prolongado e perspectiva de desaceleração da economia, tanto global quanto nacional.
Pesam ainda as incertezas relacionadas às tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Por outro lado, favorecem fatores como uma balança comercial sólida e medidas de estímulo à atividade.
O Banco Central volta a se reunir neste mês depois de elevar a taxa básica Selic para 14,75%, deixando em aberto o que fará agora e indicando a necessidade de uma dose alta de juros por período prolongado.
“Temos juros mais elevados que adiam o consumo das famílias e investimentos das empresas. Tem ambiente de incertezas dentro e fora do país, e isso tudo perturba o setor industrial", disse o gerente da pesquisa no IBGE, André Macedo.
"O quadro mais realista da indústria é de uma estabilidade em 2025, apesar dos quatro meses de avanço no ano."
No primeiro trimestre, a indústria teve retração de 0,1% após oito trimestres seguidos no azul, de acordo com os dados do PIB divulgados pelo IBGE.
Os dados da pesquisa sobre a indústria em abril mostraram que 13 dos 25 ramos industriais pesquisados tiveram expansão. As influências positivas mais significativas vieram de indústrias extrativas (1,0%) e bebidas (3,6%).
“O setor extrativo, que acumula expansão de 7,5% em três meses consecutivos de crescimento na produção, foi impulsionado pela maior extração de petróleo e minério de ferro”, explicou Macedo.
Também se destacaram os aumentos de produção dos setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (1,0%) e de impressão e reprodução de gravações (11,0%).
Na outra ponta, entre as 11 atividades com queda na produção em abril, destacaram-se coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,5%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-8,5%).
"Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis ... foi influenciada pela redução na produção do álcool e derivados do petróleo, enquanto a queda na indústria farmacêutica ... foi influenciada pela queda na fabricação de medicamentos”, disse Macedo.
Entre as grandes categorias econômicas, bens de capital (1,4%), bens intermediários (0,7%) e bens de consumo duráveis (0,4%) apresentaram ganhos, enquanto bens de consumo semi e não duráveis (-1,9%) teve queda.