Ascensão de Leão 14 reuniu 4 pretendentes ao trono de reino que não existe

Os ritos funerais do papa Francisco e a cerimônia de entronização do papa Leão 14 representaram um desafio diplomático para o Vaticano e uma saia justa para a nobreza europeia.
Junto a chefes de Estado do mundo inteiro se reuniram reis, príncipes e duques "sem coroa", pertencentes a casas reais de monarquias abolidas — entre eles, quatro pretendentes ao mesmo trono, o da Itália, cuja monarquia foi abolida por decisão popular em 1946. Por causa do antigo imbróglio, a Santa Sé optou por separá-los em duplas nas ocasiões, segundo o jornal La Nacion.
Quem são os monarcas sem trono?
Emanuele Filiberto de Saboia, príncipe de Veneza e Piemonte
Considerado como um "príncipe midiático", Emanuele, 52, é fruto de um casamento que não foi "abençoado". Seu avô, Umberto 2º, foi o último rei da Itália e se recusou a reconhecer a união do filho Vittorio Emanuele com a plebeia Marina Doria, campeã de esqui aquático.
Nascido e educado no exílio na Suíça, sempre se apresentou como "duque de Saboia, príncipe de Veneza e do Piemonte". Ele foi casado por quase 20 anos com a atriz sa Clotilde Courau, de quem está separado desde 2021. Os dois tiveram duas filhas, Vittoria e Luisa. Atualmente, namora a modelo mexicana Adriana Abascal.
Em 2009, em suposta decadência financeira, participou da quinta edição do "Dança dos Famosos" da Itália. Ele também abriu uma rede de pizzarias.
Em 2024, com a morte do pai, se tornou "herdeiro oficial" da Casa de Saboia. Mas um ano antes, ele já tinha anunciado a intenção de abdicar de sua causa ao trono em favor da filha, a princesa Vittoria. Para isso, ele aboliu a Lei Sálica da casa real, que impedia mulheres de reinar. No entanto, ainda não abandonou o título formalmente.
Aimone de Saboia-Aosta, duque de Aosta
O principal rival de Emanuele é o florentino Aimone, 57. Ele é filho de Amadeo de Saboia, primo de segundo grau do rei Umberto 2º. O parentesco com o último a ocupar o trono pode parecer distante, mas ele está baseado no fato de que o rei nunca deu seu consentimento ao casamento do herdeiro Vittorio, o pai de Emanuele. Por isso, seus direitos de sucessão (e dos filhos e netos) teriam sido eliminados, o que tornaria as pretensões de Emanuele "ilegítimas".
Quando Umberto morreu no exílio em Genebra, em 1983, os Aosta já haviam se adiantado antes que Vittorio Emanuele pudesse reivindicar o trono que não mais existia. Aimone, assim como seus antecessores, tem boa aceitação entre os monarquistas italianos porque jurou lealdade à Constituição da República.
O duque vive em Moscou com a esposa, a princesa Olga da Grécia, e os três filhos, Umberto, Amedeo e Isabella. Ele é Embaixador da Ordem de Malta na Rússia e CEO da Pirelli por lá.
Aimone e Emanuele têm boa relação, ao contrário dos pais. Eles só discordam quando o tema é a sucessão ou outras disputas internas dos Saboia — Emanuele briga na Justiça desde 2022 pelas joias da família confiscadas pelo Estado italiano porque as considera propriedades privadas, já Aimone se posicionou a favor de que elas permanecessem com a República e fossem exibidas em museus.
Pedro de Bourbon-Duas Sicílias, duque da Calábria
Não existe consenso na Casa Real das Duas Sicílias. O último monarca que realmente ocupou o trono foi sco 2º até 1861, quando invasões sucessivas e a unificação italiana colocaram um fim ao seu reinado. Quando o sobrinho do último rei, o príncipe Ferdinando Pio de Bourbon, morreu em 1960 sem herdeiros, um imbróglio começou para resolver a sucessão.
O sobrinho de Ferdinando, Alfonso, se tornou seu sucessor segundo as regras de primogenitura. Mas o irmão do falecido príncipe, Ranieri, contestou o direito de Alfonso porque o pai dele havia abdicado das Duas Sicílias para se casar com a princesa espanhola Mercedes, sua mãe. Alfonso considerou que a regra, explícita no Ato de Cannes (1990), só valia se o pai ainda estivesse vivo e tentasse ascender ao trono. E a briga começou.
Até hoje, os descendentes de Alfonso e Ranieri disputam quem seria o rei das Duas Sicílias e, por isso, "rei da Itália" após a unificação. Instituições espanholas reconhecem, historicamente, os descendentes de Carlos (e, por isso Alfonso) como legítimos herdeiros ao trono.
Este é o caso de Pedro de Bourbon-Duas Sicílias, 56. O príncipe é casado com Sofía Landaluce y Melgarejo, bisneta dos duques de San Fernando de Quiroga, na Espanha. Eles têm sete filhos, os príncipes Jaime, Juan, Pablo, Pedro, e as princesas Sofía, Bianca e María.
Nascido e criado em Madri, ele tem perfil discreto. Pedro teria servido às Forças Armadas da Espanha na Guarda Real e seu primo, o rei Filipe 6º, o nomeou presidente do Real Conselho das Ordens Militares. Ele mantém propriedades da família em La Toledana, além de outras na Espanha e na Áustria, segundo historiadores.
Até agora, não respondi às provocações do meu primo, porque em janeiro de 2014 nos comprometemos a não nos agredir ou prejudicar mutuamente. No entanto, me parece uma ousadia da parte do meu primo pretender um trono que hoje já não existe. Pedro de Bourbon-Duas Sicílias, ao jornal ABC
Carlos de Bourbon-Duas Sicílias, duque de Castro
Carlos, 62, é o herdeiro da linha de Ranieri, e atual duque de Castro. Ele é francês de nascimento, mas vive em Mônaco com a esposa Camilla Crociani, com quem tem duas filhas: as princesas Maria Carolina, duquesa de Calábria e Palermo, e Maria Chiara, duquesa de Noto e Capri. O clima é aparentemente tenso entre Carlos e o sobrinho Pedro.
Queria essa reconciliação, encerrar as diferenças familiares que envenenaram a vida do meu avô, e depois a do meu pai. Não queria deixar esse legado à minha filha. Em 2014, aceitei reconhecer mutuamente os títulos da família que ostentávamos. Foi uma grande concessão da minha parte, pois o bisavô de Pedro havia renunciado solenemente a todos os seus direitos sobre os títulos. Carlos, em entrevista reportada pelo La Nación.
A paz entre os dois durou até 2016, quando Carlos anunciou publicamente que modificaria as regras de sucessão para permitir que sua filha Maria Carolina herdasse a liderança da casa real. A medida é contrária às leis do antigo Reino das Duas Sicílias.
As monarquias de Mônaco, Dinamarca e Bélgica reconhecem Carlos como herdeiro na batalha entre os dois. Já Carlos ironiza que Pedro é "um verdadeiro príncipe espanhol" e acredita que ele não deve reivindicar títulos a uma Casa Real a qual sua família não teria direito há 115 anos, em sua opinião.